Vacina contra o coronavírus: órgão regulador dos EUA põe em dúvida previsão de Trump
Apesar de esforços sem precedentes em corrida por vacina contra coronavírus, para chefe da FDA, agência americana equivalente à Anvisa, não é possível afirmar que ela saíra ainda neste ano, como tinha dito o presidente americano.
Por: G1
Publicado em 06 de Julho de 2020 as 12:27 Hrs
O chefe do órgão regulatório de vacinas nos Estados Unidos pôs em dúvida a previsão do presidente americano, Donald Trump, de que uma vacina contra a Covid-19 ficará pronta ainda neste ano.
“Eu não posso prever quando uma vacina estará disponível”, afirmou Stephen Hahn, da Agência Americana de Drogas e Alimentos (FDA, na sigla em inglês), no domingo (5). Ele disse que o desenvolvimento de uma vacina depende de dados e da ciência.
Uma vacina eficaz treinaria o sistema imunológico das pessoas para combater o vírus, evitando assim que elas fiquem doentes ou desenvolvam um quadro que possa levar à morte.
Membro da força-tarefa da Casa Branca criada para o combate à pandemia, Hahn foi questionado sobre o tema após discurso do presidente americano.
“Eu quero enviar nosso agradecimento aos cientistas e pesquisadores ao redor do país, e também ao redor do mundo, que estão na linha de frente do nosso esforço histórico para desenvolver e entregar tratamentos que salvem vidas e, em última instância, uma vacina”, afirmou Trump em evento de celebração da independência americana (4 de julho). “Estamos desencadeando o brilho científico de nossa nação e provavelmente teremos uma solução terapêutica e/ou vacinal muito antes do final do ano."
Trump vem sendo criticado por seus comentários acerca de vacinas e tratamentos ao longo da pandemia, que já matou ao menos 130 mil pessoas nos EUA. Nos últimos dias, o número de novas infecções bateu recordes em Estados do Sul e do Meio-Oeste, e o total de diagnósticos positivos registrados no país passou de 2,8 milhões.
O chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou em junho sobre a possibilidade de os cientistas nunca conseguirem criar uma vacina eficaz contra o coronavírus. Segundo eles, as estimativas são de que, caso o processo seja bem-sucedido, a imunização poderia ocorrer em um ano, ou um pouco menos.
Parte dos especialistas afirma que isso não deve ocorrer antes do primeiro semestre de 2021.
Qual é a avaliação do chefe do órgão regulatório de vacinas dos EUA?
Em entrevista à emissora ABC News no domingo, o chefe da FDA afirmou que a velocidade atual de desenvolvimento da vacina não tem precedentes, mas que não é possível traçar um cronograma de sua eventual disponibilidade.
“Nossa promessa ao povo americano é que tomaremos decisões baseadas em dados e na ciência para uma vacina, com respeito à segurança e eficácia de uma vacina.”
Em outra entrevista à emissora CNN, Hahn disse que não comentaria a declaração de Trump de que 99% das infecções por covid-19 eram “totalmente inofensivas”.
“Eu não vou dizer quem está certo e quem está errado”, respondeu o chefe da FDA.
A taxa de letalidade entre pessoas infectadas com a covid-19 é relativamente baixa em comparação a outras doenças, porém mais contagiosa. E ela varia bastante de um país para outro. Em março, o chefe da OMS afirmou que a doença matava 3,4 pessoas a cada 100 infecções registradas. Especialistas estimam que, desconsiderando a subnotificação, essa taxa esteja entre 1% e 2%.
Segundo a OMS, a grande maioria dos infectados desenvolvem sintomas leves ou moderados da doença, e cerca de 20% precisam de suprimento extra de oxigênio por causa de dificuldades para respirar.
Qual é o estágio atual das vacinas em desenvolvimento?
Uma vacina normalmente demoraria anos, ou até décadas, para ser desenvolvida, mas cientistas ao redor do mundo estão fazendo o possível para acelerar esse processo.
Autoridades de saúde dos Estados Unidos têm expressado um otimismo cauteloso sobre uma eventual produção de uma vacina eficaz até o fim de 2020 ou início de 2021.
No início da semana passada, Anthony Fauci, autoridade máxima em doenças infecciosas nos EUA, afirmou que a eficácia e a segurança de uma vacina contra a covid-19 poderia ser analisada a partir do período de inverno no hemisfério norte, em dezembro.
Há atualmente quase 120 iniciativas de vacinas em andamento. Algumas delas, como a ligada à Universidade de Oxford e outra do Imperial College de Londres, já iniciaram os testes em humanos.
Em junho, cerca de 11 mil voluntários brasileiros receberam duas vacinas diferentes contra o coronavírus que estão em fase avançada de testes clínicos. Uma de Oxford e a outra, ligada a uma parceria entre uma criadora de vacina, a empresa chinesa Sinovac, e o Instituto Butantan, centro de pesquisas ligado à secretaria estadual de Saúde de São Paulo.
Conhecida como ChAdOx1 nCoV-19, a primeira vacina é feita a partir do ChAdOx1, que é uma versão mais branda de um vírus que causa gripe em chipanzés, com modificações genéticas que impedem que ela se espalhe entre humanos. Material genético foi acrescentado ao vírus ChAdOx1 com a presença de uma proteína chamada glicoproteína de pico.
Essa proteína existe na superfície do coronavírus e desempenha um papel fundamental no processo de contaminação, pois ela se liga a receptores presentes nas células humanas para invadi-las e causar a infecção. O objetivo da vacina de Oxford é fazer com que o sistema imunológico do corpo humano reconheça a glicoproteína de pico e crie uma defesa contra ela.
A segunda é ligada à Sinovac Biotech, empresa privada com sede em Pequim que possui experiência na produção de vacinas contra febre aftosa, hepatite e gripe aviária.
A empresa criou anticorpos específicos que agem para neutralizar o coronavírus, que segundo a companhia foram bem-sucedidos em neutralizar dez cepas do coronavírus.
Um estudo foi publicado com revisão por pares na revista científica Science no dia 6 de maio. O estudo com macacos mostrou que os animais que receberam doses maiores da vacina tiveram melhor resposta contra vírus.
O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse que o Brasil pretende ajudar não só na fase de desenvolvimento do CoronaVac, como também na produção e comercialização em território brasileiro dessa vacina, caso ela se mostre eficaz e segura.
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