Pior chuva em 60 anos na China deixa ao menos 25 mortos e milhares de desabrigados
Segundo meteorologistas, nível de precipitação dos últimos quatro dias quase alcançou o previsto para o ano todo
Por: Folha de São Paulo
Publicado em 21 de Julho de 2021 as 09:33 Hrs
Ao menos 25 pessoas morreram na China em decorrência do que os meteorologistas definiram como as piores chuvas em 60 anos em Zhengzhou, capital da província de Henan, na região central do país.
Vídeos publicados nas redes sociais na noite desta terça-feira (20) mostram passageiros presos em um vagão de metrô alagado. Ao menos 12 pessoas morreram, e mais de 500 precisaram ser resgatadas por serviços de emergência. De acordo com relatos, os socorristas tiveram que abrir o teto de um vagão para retirar, um a um, os passageiros.
Outras quatro mortes foram confirmadas em Gongyi, segundo a imprensa. Localizada às margens do rio Amarelo —assim como Zhengzhou—, a cidade registrou um colapso generalizado de casas e outras estruturas devido às chuvas. O número total de mortos chegou a 25 e há pelo menos sete desaparecidos.
Em outra publicação na internet, um usuário disse que, no vagão em que ficou preso, a água atingiu a altura do seu peito, mas o que mais o assustava era a diminuição do suprimento de ar dentro do metrô.
Devido à intensidade das chuvas nos últimos dias, as autoridades de Zhengzhou, que tem mais de 12 milhões de habitantes e fica a cerca de 650 km de Pequim, interromperam a circulação de ônibus, o que levou um número maior de pessoas a optarem pelo metrô.
Segundo o serviço meteorológico, do último sábado (17) até esta terça, os medidores registraram 617,1 milímetros de chuva em Zhengzhou. A média anual na cidade é de 640,8 milímetros. Isso significa que a quantidade de chuva dos últimos dias foi quase equivalente ao que estava previsto para o ano todo.
E deve continuar chovendo. A previsão para a província de Henan, um importante centro logístico da China com mais de 100 milhões de habitantes, é de mais precipitação durante os próximos três dias. O Exército de Libertação Popular, as Forças Armadas chinesas, despachou mais de 5.700 soldados para reforçar as equipes de assistência e resgate.
"Os esforços de prevenção de enchentes se tornaram muito difíceis", disse o dirigente da China, Xi Jinping, nesta quarta-feira (21), em um comunicado transmitido pela emissora estatal. "As barragens afundaram, provocando ferimentos graves, mortes e danos. A situação provocada pelas inundações é extremamente grave."
Grande parte dos serviços de trem em Henan foram suspensos. Rodovias foram fechadas e muitos voos, adiados ou cancelados. Entre 100 mil e 200 mil pessoas —os números divulgados variam— em Zhengzhou foram forçadas a deixar suas casas, e as autoridades decretaram nível máximo de risco.
O maior hospital da cidade, com cerca de 7.000 leitos, ficou sem energia elétrica. Segundo a agência de notícias Reuters, a administração estava procurando formas de transferir cerca de 600 pacientes em estado crítico.
Em Luoyang, cidade às margens do rio Luo com sete milhões de habitantes, o volume extraordinário de água abriu uma fenda de 20 metros na barragem de Yihetan. Segundo as autoridades, a estrutura pode ruir a qualquer momento. Os militares estão preparando uma operação de emergência que inclui dinamitar e desviar as cheias para evitar uma catástrofe ainda maior.
O nível de água no reservatório de Guojiazui, em Zhengzhou, também ultrapassou as marcas de segurança, mas até o momento não houve risco real de rompimento.
Todo ano, as chuvas sazonais provocam grandes inundações na China. No ano passado, inundações sem precedentes no sudoeste do país afetaram estradas e obrigaram dezenas de milhares de habitantes a procurarem áreas seguras. Mas a ameaça aumentou à medida que obras faraônicas, como a construção de barragens ou os desvios dos leitos dos rios, cortaram as conexões existentes entre os rios e lagos adjacentes.
Além disso, assim como as ondas de calor com temperaturas recorde nos Estados Unidos e no Canadá e as inundações catastróficas registradas em países como Alemanha, Holanda e Bélgica, as chuvas na China estão diretamente relacionadas a um contexto global de mudanças climáticas.
Especialistas consultados pela Folha explicam que o aumento das temperaturas em nível global gera um acúmulo de energia na atmosfera que se dissipa por meio de eventos climáticos extremos, que tendem a se tornar cada vez mais poderosos e mais frequentes.
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