Homens também sofrem violência sexual na guerra da Síria, diz relatório
Entrevistas com vítimas mostram que estupros e outras agressões atingem especialmente os LGBT
Por: Folha de São Paulo
Publicado em 30 de Julho de 2020 as 09:37 Hrs
A violência sexual durante o conflito da Síria não é uma forma de tortura e humilhação dirigida apenas às mulheres: homens também são vítimas, especialmente os LGBT.
Um relatório publicado nesta quarta-feira (29) pela organização internacional Human Rights Watch (HRW) aborda esse tema e traz relatos de homens que sofreram estupros, assédios, mutilação dos órgãos genitais e outros tipos de abusos no Exército sírio, em prisões e postos de controle do regime ou por parte de grupos terroristas como o Estado Islâmico.
Denominado “Eles nos tratavam de formas monstruosas”, o relatório entrevistou 44 refugiados, a maioria deles no Líbano, além de médicos, psicólogos e assistentes sociais que lidam com o tema.
Quatro vítimas entrevistadas são homens heterossexuais, e os demais são homens gays e bissexuais e mulheres transgênero —incluídas na pesquisa por serem vistas como homens afeminados na Síria e alvo das mesmas violências. Alguns eram menores de idade no momento em que foram maltratados.
O impacto do trauma sobre a saúde física e mental deles permanece meses ou anos depois do que sofreram: eles descrevem sinais de depressão, estresse pós-traumático e pensamentos paranoicos, além de dores severas no reto e nos genitais e sangramentos no corpo. Alguns contraíram doenças sexualmente transmissíveis, inclusive o vírus HIV.
Mulheres são inquestionavelmente mais afetadas pela violência sexual em conflitos, mas homens também são vítimas.
Segundo estudos e relatórios da ONU e de organizações humanitárias, o tema é invisibilizado e subnotificado, em parte pelo estigma que há em relação ao assunto, que leva os homens a terem receio de falar sobre os abusos e de buscar ajuda.
Outro ponto levantado é que muitas vezes esse tipo de agressão é documentado nas pesquisas apenas como tortura, e não como violência sexual relacionada a conflitos.
No caso da Síria, homens heterossexuais também estão sujeitos a esse tipo de agressão, mas os gays, bissexuais —ou que são percebidos como tal, mesmo sem ser— estão particularmente em risco, assim como as mulheres transgênero.
Isso porque, numa sociedade em que a heterossexualidade é ligada ao poder e à força da família e da comunidade, eles são percebidos como fracos, declarou Zeynep Pınar Erdem, autor do relatório, no material de divulgação do relatório.
Minorias sexuais e de gênero na Síria sofrem discriminação e perseguição desde muito antes da guerra. O código penal sírio determina que “qualquer relação sexual não natural deve ser punida com prisão de até três anos” e que crimes “contra a decência pública” praticados em público estão sujeitos a até três anos de prisão.
Esse tipo de legislação costuma ser usada contra pessoas LGBT, como mostra um relatório que documenta anualmente a criminalização da homossexualidade no mundo.
Mas o conflito, que começou em 2011 e se estende até hoje, desencadeou uma onda generalizada de violência que também fez crescer a vigilância e as agressões contra esses grupos especialmente vulneráveis.
Nas prisões e nos postos de controle do regime, por exemplo, apesar de todos os homens estarem sujeitos a práticas como choques elétricos nos genitais, nudez forçada e estupro com objetos, os entrevistados pela HRW contam que, quando os guardas percebiam sua orientação sexual —por fotos encontradas em seus celulares, por exemplo— , intensificavam o grau de violência e perversão contra eles.
Os depoimentos são fortes e envolvem estupros coletivos e repetitivos, humilhações por meio da nudez e tortura envolvendo seus órgãos genitais. Um deles presenciou, aos 15 anos, o namorado sendo jogado do alto de um prédio por jihadistas do Estado Islâmico —prática comum desse grupo terrorista contra homossexuais.
Eles afirmaram que não buscaram ajuda após o ocorrido porque não confiavam nos serviços médicos ou de saúde mental na Síria e por terem vergonha e medo da estigmatização e de serem novamente discriminados. Uma vez no exílio, no Líbano, também não encontram muito apoio de organizações humanitárias, que muitas vezes zombam deles e os menosprezam.
Para a HRW, organizações, prestadores de serviços e organizações humanitárias deveriam treinar seus funcionários para atender não só mulheres, mas também homens vítimas desse tipo de violência.
ALGUNS DEPOIMENTOS DAS VÍTIMAS
"Eles checaram nossos celulares e nos disseram: ‘Vocês não são só contra o que é certo; vocês também são ‘bichas’. As agressões foram multiplicadas por dez, eu diria. Eles faziam aquilo felizes. Nos estupravam com bastões"
"Tive infecções internas, porque os objetos que eles inseriam em mim eram muito sujos. Aconteceu em várias ocasiões. Você não tem nenhum direito lá"
"Olho para trás quando estou andando. Ainda acordo à noite. E se acontecesse de novo? Uma vez, a polícia [na Holanda] me parou só para checar se eu estava bem. Fiquei estático, sem saber o que dizer. Isso foi um aviso. De que [o trauma] não foi embora"
Yousef, 28
"Fui detido pelo Estado Islâmico por três meses, por fazer parte dos protestos. Eu tinha 15 anos. Fui preso junto com meus amigos. Meu namorado foi jogado de um prédio alto pelo Estado Islâmico"
Khalil, 21
"Era uma cela individual. Achei que estaria sozinha, mas eles deixavam alguém entrar todo santo dia, uma ou duas pessoas. Guardas, prisioneiros, oficiais de alta patente que trabalhavam na delegacia de polícia. No fim eu perdi a força para resistir. Apenas me rendi. Eu ficava coberta de sangue o tempo todo"
Naila, 21, mulher transgênero
Uma vez minha irmã foi parada em um posto de controle. O soldado pediu seu celular e viu uma foto minha usando short, sem cabelos no meu corpo. Ele perguntou: 'Quem é este?' e ela respondeu: 'meu irmão'. Eles vieram na nossa casa e me levaram. Quando cheguei, ele me pediu para tirar a calça e a blusa. Depois minha cueca. Aí ele me fez dormir com ele. Ele me manteve assim por 10 dias, fazendo sexo com ele três ou quatro vezes ao dia.
Rima, 20, não binário
"Na prisão militar, os guardas nos batiam, riam da gente, nos amarravam no chão, nos obrigavam a tirar a roupa em frente de quatro soldados enquanto eles cuspiam na gente, nos humilhavam e insultavam nossas irmãs, mães e o resto da nossa família. Eu preferia ter morrido a ouvir aquelas palavras. Só o fato de ter que ficar nua em frente a quatro pessoas olhando para mim já era muito doloroso"
Sabah, 40, mulher transgênero
- COMENTÁRIOS
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
20:17
Prefeito Edelo Ferrari recebe documentação do Loteamento Parque do Empreendedor I
O Parque do Empreendedor Ivani Ferrari compreende a uma área total de 94 hectares
18:20
Servidora de Brasnorte enfrenta processo disciplinar após vazamento de vídeo de Sexo em secretaria
O objetivo da sindicância foi apurar os fatos e reunir evidências sobre a conduta da servidora
18:17
Em Nova Iorque, Virginia Mendes e Mauro Mendes participam de jantar em homenagem ao empresário Alexandre Birman
No evento, Birman falou sobre a ação em prol do povo gaúcho.
17:02
Mato Grosso se mantém como maior produtor de grãos do país em 2024
Estado deve colher 85,7 milhões de toneladas de grãos e continuará contribuindo significativamente para o cenário global
16:48
Prefeitura de Juína disponibiliza boletos do IPTU 2024 com descontos e opções de pagamento
Os boletos estão disponíveis no site da Prefeitura, na seção de serviços online
16:41
Estorno do Leilão de Imóveis no Loteamento Pantanal para os não Contemplados
O processo de estorno estará disponível a partir do dia 15 de maio
17:19
Comunidade juinense arrecada mais de 44 toneladas de donativos para o RS
As arrecadações foram destinadas para o município de Canoas/RS
11:34
Morre a deputada federal Amália Barros, aos 39 anos
Parlamentar estava internada desde o dia 1º de maio, para fazer uma cirurgia de retirada de um nódulo no pâncreas
21:40
Prefeito Edelo Ferrari apresenta novo maquinário para Agricultura Familiar de Brasnorte
Os equipamentos foram contemplados pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Agricultura Familiar
14:16
Dito Costa é detido com carro clonado e se diz vítima de armação
Policia civil atuou em Juína e foi preso em Alcorizal/MT com um carro clonado
MAIS LIDAS
Comunidade juinense arrecada mais de 44 toneladas de donativos para o RS
Servidora de Brasnorte enfrenta processo disciplinar após vazamento de vídeo de Sexo em secretaria
Prefeito Edelo Ferrari recebe documentação do Loteamento Parque do Empreendedor I
Morre a deputada federal Amália Barros, aos 39 anos
Em Nova Iorque, Virginia Mendes e Mauro Mendes participam de jantar em homenagem ao empresário Alexandre Birman
Prefeitura de Juína disponibiliza boletos do IPTU 2024 com descontos e opções de pagamento
Estorno do Leilão de Imóveis no Loteamento Pantanal para os não Contemplados