'Se Maduro quer roubar, tem que ser diante dos olhos do mundo', diz líder opositor na Venezuela
Henrique Capriles defende escolha de participar de eleições legislativas, diferentemente de Guaidó
Por: Folha de São Paulo
Publicado em 10 de Setembro de 2020 as 11:50 Hrs
"Se não fizermos nada, não vai acontecer nada. Precisamos, pelo menos, dar trabalho a Nicolás Maduro para que ele tenha que cometer uma fraude nas eleições. Não pode ser que tudo seja fácil para a ditadura."
Assim o ex-candidato a presidente e ex-governador do estado de Miranda Henrique Capriles Radonski, 48, justifica sua posição de participar das eleições legislativas na Venezuela, marcadas para 6 de dezembro. Mesmo que ainda esteja inelegível, atua nos bastidores para que parte da oposição participe do pleito.
A convocação marca um racha entre Capriles e o atual líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, cujo mandato terminará em 5 de janeiro. Guaidó, que se proclamou presidente interino e tem o apoio de mais de 50 países, convocou um "pacto de unidade" com 37 partidos que pretendem boicotar o pleito.
Você estava apoiando Guaidó. Agora não mais. O que aconteceu? Quero deixar claro que o que estou fazendo não é lutar pelo protagonismo nem pela liderança da oposição. O tempo passou, a estratégia de Guaidó não funcionou. A política muda. Não há plano da oposição para enfrentar a ditadura, e precisamos de um. Entre o realismo, que é a ditadura, e o ilusionismo, que é essa "presidência na internet", de Guaidó, precisamos ser realistas.
A Constituição diz que deve haver uma eleição legislativa a cada cinco anos. Então temos que fazer essa eleição, não porque Maduro quer, mas porque é hora de fazer. Não acho que não vai haver fraude. Mas não podemos deixar de participar da luta. Temos de subir no ônibus para dizer que ele não funciona. Não adianta nada ficarmos parados no ponto e, depois que o ônibus passar, sem a gente a bordo, nós ficarmos gritando que o ônibus está com problemas.
Mas Guaidó conseguiu avanços, também, ao obter apoio internacional e conseguir mais sanções a funcionários da ditadura. Como fica isso? São elogiáveis os resultados que obteve, e por isso estive apoiando. Mas as sanções têm limite. Se não conseguem derrubar a ditadura, começam a causar dano à população. E é o que está acontecendo. O que Guaidó conseguiu não bastou. Eu também quero, como ele, eleições livres. E não quero polarizar com ele. Temos conversado. Mas creio que temos de ser realistas. Aqui temos um tema de utilidade. Os avanços que ele conseguiu não serviram para o objetivo final, que era tirar Maduro do poder.
Então, precisamos de outra estratégia. Foi o fato de termos participado da eleição de 2015 que deu espaço e projeção para Guaidó lançar sua proposta. A legitimidade dele veio pelas urnas. Maduro não tirou a legitimidade da Assembleia Nacional. Teve de ter o trabalho de esvaziar seu poder por outros meios, porque não pôde derrubá-la. Temos de continuar dando esse trabalho a Maduro. Não entregar-lhe a Assembleia assim, de bandeja.
Em 2005 ocorreu isso. Foi um erro? Esse é o melhor exemplo. Tanto foi um erro que demoramos mais de dez anos para voltar à política. A oposição boicotou aquelas eleições, e [o ex-presidente Hugo] Chávez ficou com grande poder. Ditou leis, projetos, foi contra a Constituição.
Mas a oposição tentou participar das eleições depois da Constituinte: as regionais, a de governadores e a presidencial de 2018, e houve fraude em todas... Sim, e eu também não acho que essa eleição vá resolver as coisas, mas há uma brecha para fazer algo. E temos de pressionar para que a comunidade internacional venha, que a União Europeia esteja aqui para observar. Se Maduro quer roubar, tem de fazer isso diante dos olhos do mundo. E tem de perceber que, cada vez que ele quiser fraudar uma eleição, vai ter um custo, vai ser um desgaste a mais para ele.
Além disso, todos os países descartam a ação militar, até os EUA. Então, o que nos resta? Participar do jogo político como for. Aproveitar as oportunidades, por pequenas que sejam. Temos de deixar claro que o arbitrário aqui é Maduro, e que democráticos somos nós. Não podemos posar de intransigentes.
Guaidó agora fala em uma consulta popular, mas ela já existiu, em 2017. Você acha válida? Não creio que votações simbólicas nos ajudem mais em nada. Guaidó pode realizá-la, eu o respeito. Mas de que serve? A de 2017 havia dado força à oposição e, semanas depois, tivemos de engolir a Assembleia Nacional Constituinte a seco. Talvez funcione como símbolo, mas não será útil na prática. A política de símbolos, como a ideia de Presidência interina não funcionou, esgotou-se.
E qual a proposta dos mais de 200 candidatos que sua aliança [Fuerza del Cambio] lançará nessa eleição? É justamente a de voltar à política real. E mostrar ao mundo que queremos estar numa política real, não simbólica. Queremos que, com a ajuda da comunidade internacional, Maduro entenda que é melhor ele jogar o jogo democrático que o da força. O discurso da força e da repressão não conta com todos os apoios dentro do chavismo, há com quem dialogar aí. Com o agravamento da situação econômica, com a pandemia, essas vozes do diálogo podem ser mais numerosas.
Foi com elas que dialogou para a liberação dos 110 presos políticos, no final de agosto? A política é feita de diálogos, e eu estive lutando pela liberação de [Juan] Requesens por muitos meses. Esse tipo de liberação não ocorre sem política. É preciso tentar liberar todos. É preciso que se entenda que a política é feita com pessoas. Eu falei com pessoas, não tenho vetos a falar com ninguém.
E como ainda não conseguiu a sua própria liberação? Porque você ainda está inelegível. Para que se veja que não é simples e que não deixarei de expôr Maduro sempre que for possível. Ele nos últimos dias disse que [o ex-presidente boliviano] Evo Morales e [o ex-presidente equatoriano] Rafael Correa são perseguidos políticos e que por isso a Justiça da Bolívia e do Equador não os deixa concorrer. E o que Maduro fez comigo? Foi exatamente a mesma coisa. Eu gostaria de ter sido candidato em 2018. Vamos continuar lutando pela liberação de todos.
Você também propôs uma nova data para a eleição. Acha que a pandemia está piorando? Sim, aqui começamos depois, porque estamos mais isolados do mundo. Mas agora começou a pegar forte, embora o governo tente esconder isso. Não sou médico, mas pela observação dos outros países, creio que em dezembro é possível que isso aqui esteja muito pior. Além disso, não há como fazer campanha eleitoral com quarentena. Para mim, o ideal seria que fosse no começo do ano que vem. Mas creio que Maduro quer resolver logo. Ou seja, será outra luta que teremos de enfrentar, sem perder de vista que ele desejará que o mandato da atual Assembleia Nacional termine de fato em 5 de janeiro, desarticulando a oposição que está no parlamento.
- COMENTÁRIOS
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
16:56
IFMT Juína adere a greve e aulas serão suspensas
Os alunos deverão estar atentos aos canais de comunicação do Campus para qualquer mudança.
09:52
Instituto Saberes realiza oficinas de bolo no pote em Juína
A oficina de BOLE DE POTE atendeu 48 mulheres
09:46
Na semana dos Povos Indígenas crianças visitam Biblio-Óca em Juína
O projeto é uma realização da AIMURIK através do Edital Ponto de Cultura da SECEL
09:40
"Nunca pensei que um dia receberia um presente tão valioso", afirma contemplada com escritura da 1ª casa aos 70 anos
Francisca da Silva é uma das 1.100 contempladas com documentos de posse de imóvel entregues em Juína
09:38
Sema faz 99 operações e aplica mais de R$ 300 milhões em multas no primeiro trimestre
Operação Amazônia colocou 200 servidores em campo e equipes de monitoramento remoto para promover a responsabilização de infratores
09:36
Produção de gergelim deve aumentar 105,8% em Mato Grosso e está acima da média nacional
Governo do Estado incentiva a cadeia produtiva por meio de incentivos fiscais para operações interestaduais
15:48
Secretaria de Saúde de Brasnorte realiza Dia D de vacinação contra gripe
O objetivo de ampliar a cobertura vacinal no Município.
11:54
Secretário esclarece falta de uniformes e apostilas na rede municipal
Pais de alunos da rede municipal relataram a falta de material no município
16:55
Reformulação no TSE pode impactar recurso de Moro e uso de IA em eleições
O TSE deve julgar o pedido de cassação do ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União-PR).
12:01
Brigada de Incêndio realiza simulado com apoio do Samu em Juína
O simulado de encerramento contou com a participação da equipe do Samu
MAIS LIDAS
Presidente da Câmara de Juína é contido na UPA após bebedeira
Governador faz secretário dar explicações ao vivo na Band FM sobre buracos em rodovia
IFMT Juína adere a greve e aulas serão suspensas
Secretário esclarece falta de uniformes e apostilas na rede municipal
Brigada de Incêndio realiza simulado com apoio do Samu em Juína
Na semana dos Povos Indígenas crianças visitam Biblio-Óca em Juína
Governo de Mato Grosso entrega 75 casas em Juína