
Mortes de crianças expõem gravidade da crise no principal hospital infantil da Venezuela
Médicos denunciam desvio de medicamentos por funcionários e até diretores para mercado negro
Por: Folha de S. Paulo
Publicado em 04 de Junho de 2019 as 16:07 Hrs
Dentre as tantas tragédias da crise humanitária venezuelana, a mais recente a levar as pessoas à protestar nas ruas é a sequência de mortes de crianças que esperavam transplante de medula no hospital José Manuel de los Ríos.
O principal hospital infantil do país, assim como as demais instalações médicas estatais da Venezuela, foi perdendo sua capacidade de atender crianças com distintos tipos de câncer ao longo do tempo.
Ainda que tenha 420 leitos e, até pouco tempo atrás, capacidade de manter o atendimento com a casa lotada, o hospital agora presta assistência a apenas 86 pacientes, por falta de recursos para cuidar do fluxo de outros tempos.
Apenas em maio, morreram quatro crianças que esperavam um transplante de medula. Giovanni Figuera, 6, Robert Redondo, 7, Yeiderberth Requena, 8, e, o mais recente, Erick Altuve, 11, no último dia 26. Os quatro eram parte de um grupo de 30 garotos a espera de um transplante de medula nesse hospital. Agora, restam 26.
Também em maio morreram outras duas, Yoider Carrera, 2, e Nicole Díaz, 3, que não esperavam um transplante, mas cujos tipos de câncer o hospital não tinha recursos necessários para o tratamento.
Uma multidão acompanhou o velório de Erick. Os pais das outras crianças, mortos ou à espera de transplante ou tratamento, já vinham convocando manifestações na porta do hospital havia cinco meses.
A morte do menino parece ter sido a gota d’água.
Após os protestos, o ditador Nicolás Maduro afirmou que o corte de verbas para o hospital ocorre devido às sanções norte-americanas e por cumplicidade da oposição venezuelana, que as estariam estimulando.
“Este discurso é absurdo, uma vez que foi Maduro quem não quis renovar um convênio que tínhamos com o governo da Itália, que nos ajudou com mais de 80 transplantes nos últimos anos”, diz à Folha a deputada Manuela Bolívar, do partido Vontade Popular.
Além disso, diz ela, os pais estão recolhendo várias acusações contra os diretores do hospital que, segundo eles, estariam desviando remédios —até mesmo os medicamentos para aliviar a dor das crianças.
“Sabemos que, no caso de Erick, ele precisava de um sedativo no final, porque não aguentava mais as dores que sentia, e o medicamento recomendado estava no hospital, mas não foi dado a ele, porque provavelmente foi desviado para o mercado negro.”
A médica italiana Enrica Giavatto, que cuidava das crianças venezuelanas na Itália quando o convênio ainda existia, disse que “a situação é desesperadora”. “Não tem uma solução. Pouco a pouco, os outros vão morrer também.”
A saúde na Venezuela hoje funciona em duas instâncias: a pública, que está colapsada, e a privada, que tampouco funciona muito melhor, porque “quem precisa fazer uma intervenção ou uma cirurgia precisa conseguir, no mercado negro, todo o material necessário, da bata usada pelos médicos ao bisturi e até a anestesia”, conta o médico Franco Sorge.
E o mercado negro, segundo ele, alimenta-se de drogas e materiais trazidos do exterior ou desviados dos hospitais públicos, por funcionários e até mesmo por diretores. “Formou-se um negócio, uma máfia, por trás da venda ilegal desses remédios.”
“Estamos recolhendo as denúncias para armar um relatório, mas os médicos que trabalham lá estão muito tristes por não poder ajudar as crianças. E as famílias já vivem apenas da esperança de um milagre.
Alimentam-se da mística de uma cura impossível sem tratamento”, afirma Bolívar.
A história de Erick comoveu o país, pois era um menino pobre, que vivia na favela do Petare, em Caracas, e tinha um linfoma não Hodgkin. No dia de seu velório, amigos e manifestantes levaram brinquedos para enfeitar seu caixão.
Seus pais, Gilberto e Jennifer, estimularam os outros pais a irem ao velório junto a pacientes e familiares, como forma de protesto. O grupo pedirá à Procuradoria venezuelana que investigue as autoridades do hospital.
“Maduro diz que não há dinheiro para cuidar das crianças, mas acaba de anunciar o gasto de 50 milhões de euros na compra de uniformes militares, e outros 7 milhões para produzir fuzis”, diz Bolívar. “Nosso convênio com a Itália custava ao governo 10 milhões de euros. Então não é possível dizer que falta dinheiro por conta da sanção dos EUA.”
Outra peculiaridade desse drama é que as próprias crianças têm falado do problema publicamente. Em fevereiro de 2016, Oliver Sánchez, diagnosticado com linfoma de Hodgkin, concedeu entrevista contando como era a situação de seus pais, que não tinham como custear seu tratamento, e a do hospital J.M. de los Ríos.
Alguns meses depois, o garoto morreu. Erick também se pronunciou e, numa entrevista, disse que queria viver e que tinha esperanças.
O barulho nas ruas fez com que Maduro anunciasse que quatro dos 26 menores internados no hospital viajarão a Cuba para se tratar, “devido à generosidade do povo cubano, sempre solidário com a irmã Venezuela”.
A questão é que ficarão no hospital, sem assistência, os outros 22, que, sem transplante, segundo os médicos, também morrerão.
Os protestos de rua em apoio às crianças estão sendo convocados na internet com a hashtag #NiUnNiñoMas.
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