Milícia bombardeia capital da Líbia e ONU pede trégua humanitária
Governo provisório anunciou uma ofensiva contra os rebeldes, que avançam em direção a Trípoli
Por: AFP e Reuters
Publicado em 08 de Abril de 2019 as 15:09 Hrs
Milícias ligadas ao general Khalifa Haftar continuam avançando em direção a Trípoli, capital da Líbia, e realizaram neste domingo (7) seu primeiro bombardeio contra a cidade, apesar dos pedidos da ONU para que os combates sejam interrompidos na região.
Ao menos 21 pessoas foram mortas e mais de 90 ficaram feridas desde que o líder rebelde iniciou sua ofensiva contra a capital, sede do GNA (o governo provisório do país), reconhecido pela maior parte da comunidade internacional.
O conflito, que deixou moradores presos no meio do fogo cruzado, chegou a apenas 11 km do centro da capital.
Haftar e a milícia que ele comanda, o Exército Nacional Líbio (ENL), já capturaram três cidades próximas a Trípoli (Gharyan, Surman, e Aziziya) e afirmam também ter o controle do aeroporto que serve a capital, o que o GNA nega.
Em uma escalada das tensões, o governo provisório de Trípoli anunciou também uma contraofensiva contra as forças rebeldes em todo o país, em uma operação que chamou de "Vulcão da Ira", com apoio de milícias locais.
Chefe do governo interino, Fayez al-Sarraj advertiu para uma "guerra sem vencedores", em discurso na televisão. "Estendemos nossas mãos para a paz, mas após a agressão de parte das forças pertencentes a Haftar, a única resposta será a força e a firmeza", disse ele ao anunciar a contraofensiva.
Sarraj também pediu explicações à embaixadora francesa no país, Béatrice du Hellen, devido ao apoio que Paris já deu ao general Haftar.
A ONU fez um apelo para que os confrontos em Trípoli fossem interrompidos por duas horas neste domingo para que os feridos e a população civil pudessem ser retirados, mas os dois lados ignoraram a trégua.
O pedido ocorreu após o Crescente Vermelho, versão islâmica da Cruz Vermelha, afirmar que o conflito bloqueou o acesso à capital, impedindo o atendimento as vítimas.
A Líbia atualmente está dividido entre o GNA em Trípoli, que comanda a parte oeste do país e tem o reconhecimento internacional, e o governo de Tobruk, que domina a região leste e tem o apoio do ENL, a milícia de Haftar. Há ainda regiões controladas por grupos menores, além de uma área com atuação do grupo extremista Estado Islâmico (EI).
Na quinta (4), o general anunciou que daria início a uma ofensiva contra a capital, em uma tentativa de unificar o comando do país antes do início das negociações de paz patrocinadas pela ONU, marcadas para acontecer entre 14 e 16 de abril em Gadamés, no sudoeste do país.
O enviado da ONU para a Líbia, Ghassan Salamé, disse no sábado (6) que a conferência se mantém, apesar da ofensiva contra Trípoli.
Analistas afirmam que o real objetivo de Haftar é fortalecer seu próprio nome como o único capaz de acabar com o caos que a Líbia vive desde a derrubada do ditador Muammar Gaddafi, em 2011, na esteira da Primavera Árabe.
Desde então, milícias rivais disputam o poder. Os tumultos reduziram severamente a produção de petróleo, principal riqueza nacional, e criaram regiões de refúgio para militantes islâmicos, incluindo o EI.
O conflito entre rebeldes e o governo fez ainda com que os EUA anunciassem a retirada de suas tropas da Líbia, que estavam no país para ajudar no combate ao Estado Islâmico.
Na Europa, o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, Jeremy Hunt, disse que não há justificativa para a ação de Haftar. “Nós vamos usar todos os canais para encorajar a calma e impedir um banho de sangue”, afirmou ele. O governo italiano também disse estar preocupado com a situação.
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, afirmou que o país está "profundamente preocupado" com a ofensiva na Líbia e que busca a "suspensão imediata" da ação militar.
Os Emirados Árabes Unidos, que ao lado da Arábia Saudita e o Egito apoiam Haftar, também pediu moderação a todos os lados no conflito.
Segundo fontes diplomáticas, a Rússia barrou neste domingo uma declaração do Conselho de Segurança da ONU que pedia que as forças de Haftar detivessem seu avanço sobre Trípoli, proposta pelo Reino Unido.
Como as declarações do órgão precisam ser aprovadas por consenso, a recusa da Rússia bloqueou a divulgação da nota. O país tem sido um partidário chave de Haftar.
CRONOLOGIA
2011 Derrubada do ditador Muammar Gaddafi em meio à Primavera Árabe
2014 Guerra civil divide país; general Haftar faz tentativa frustrada de golpe militar
2015 Acordo nacional com apoio da ONU instaura o GNA como governo provisório em Trípoli
2017 Haftar toma a cidade de Benghazi e consolida domínio sobre o leste da Líbia
fev. 2019 Milícia de Haftar avança sobre deserto ao sul do país e domina campo de petróleo El Sharara
abr. 2019 Rebeldes avançam contra a capital, Trípoli
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