Grande incêndio atinge Beirute na mesma região de megaexplosão há um mês
Fogo de causas ainda desconhecidas começou na zona portuária da cidade; não há relatos de vítimas
Por: Folha de São Paulo
Publicado em 10 de Setembro de 2020 as 11:47 Hrs
Um depósito de óleo e pneus no porto de Beirute pegou fogo nesta quinta-feira (10), pouco mais de um mês depois que uma megaexplosão devastou mais da metade da capital libanesa.
De acordo com os primeiras informações, o incêndio começou na zona portuária e criou uma enorme coluna de fumaça sobre a cidade, mas não há relato de feridos.
O Exército libanês informou que seriam usados helicópteros para ajudar a extinguir as chamas. Ainda não se sabe o que pode ter iniciado o fogo, mas ministra interina da Justiça, Marie-Claude Najm, determinou a abertura de uma investigação envolvendo todas as principais agências de segurança do país.
De acordo com o gerente interino do porto, Bassem El-Kaissi, as chamas começaram em um armazém de uma empresa privada que importava óleo de cozinha. De lá, o fogo se espalhou para um depósito de pneus. "É por isso que você vê as grandes nuvens negras", disse ele ao New York Times.
Segundo El-Kaissi, o incêndio se concentrou em uma área onde empresas armazenam mercadorias importadas que ainda não foram liberadas pela alfândega. Como toda a zona portuária, a área foi fortemente danificada pela explosão há cinco semanas.
Emissoras libanesas mostraram bombeiros tentando apagar o incêndio no porto, na mesma região onde armazéns e silos de grãos foram destruídos pela explosão de 4 de agosto.
A imprensa local informou que o Exército chegou a evacuar pessoas nas proximidades. Em entrevista ao The Independent, Michel el-Murr, chefe da equipe de busca e resgate do corpo de bombeiros, disse que as autoridades precisaram pedir reforços.
“Não sabemos exatamente o que está queimando, estamos tentando apagar o fogo, mas é muito grande, precisamos de uma mistura de água e espuma”, disse.
O chefe da defesa civil, em entrevista à emissora libanesa AlJadeed, pediu aos moradores que ficassem calmos e disse que o fogo foi contido em um único lugar. De acordo com imagens feitas no local, o fogo está limitado à estrutura de um prédio danificado pelo explosão do mês passado.
Embora não haja relato de mortos ou feridos no incêndio desta quinta, a dimensão das chamas e da coluna de fumaça que pode ser vista a quilômetros de distância deixou os moradores de Beirute em pânico.
“Estou dizendo a mim mesmo que nada vai acontecer e que provavelmente não grande coisa, mas você não dá para lutar contra a ansiedade de abrir todas as janelas, sentar em um corredor ou ficar nervoso o tempo todo e ter pessoas ligando para você, pedindo que você deixe a área”, disse Feras Abdallah, 27, um arquiteto cujo carro e apartamento foram destruídos na explosão há cinco semanas.
Majed Hassanein, 49, estava levando sua esposa e dois filhos de carro para fora da cidade. "Sou forçado a tirá-los de Beirute, da fumaça e do incêndio que está acontecendo no porto novamente", disse à agência de notícias Reuters.
George Kettaneh, chefe da Cruz Vermelha do Líbano, disse que não há risco de outra explosão como resultado do incêndio e que, embora não haja feridos, algumas pessoas mais próximas da zona portuária estão sofrendo de falta de ar.
"Está ficando cada vez mais difícil respirar, está literalmente chovendo cinzas", escreveu um usuário no Twitter. Nas redes sociais, libaneses que ainda estão se recuperando da explosão anterior, expressam sua preocupação de que outro grande desastre esteja em andamento.
"Eu simplesmente não consigo entender como um incêndio dessa escala é possível no porto", escreveu Aya Majzoub, da ONG Human Rights Watch. "As autoridades não garantiram que todo material fosse armazenado com segurança depois que a negligência destruiu metade da cidade?"
Algumas equipes de bombeiros que trabalham no local ainda trazem nas viaturas as fotos de dez de seus colegas que morreram enquanto tentavam conter o incêndio que precedeu a explosão do mês passado.
"Outro grande incêndio no porto de Beirute. Abrimos todas as janelas para proteger contra outra explosão ou fechamos para proteger contra os gases tóxicos?", questiona outra libanesa. "O céu está preto e meus pulmões doem. Meu coração também."
Pelo menos 190 pessoas morreram na tragédia em 4 de agosto, além de mais de 6.000 feridos e 300 mil desabrigados. A causa foi um incêndio em um enorme depósito que armazenava cerca de 2.750 toneladas de nitrato de amônio, um composto químico usado para a produção de fertilizantes e de explosivos.
Um conselho judicial que investiga a explosão deteve 25 pessoas, incluindo funcionários do porto, da alfândega e do setor de segurança.
â��Após a explosão, o Líbano enfrentou protestos contra o governo do primeiro-ministro Hassan Diab, que anunciou a renúncia coletiva de seu gabinete e prometeu novas eleições. Os manifestantes também pediram a saída do presidente Michel Aoun após a revelação de que o político fora alertado do risco que o nitrato de amônio representava para Beirute duas semanas antes da tragédia.
No dia 31 de agosto, Aoun nomeou um novo primeiro-ministro, o embaixador Mustapha Adib, que foi eleito pelo Parlamento após um acordo mediado pelo presidente francês, Emmanuel Macron. Adib prometeu reformas imediatas para garantir um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
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