Em seis meses como interino, Guaidó avança, mas falha em seu objetivo principal
Com ditador Maduro ainda no poder, opositora Assembleia Nacional convoca manifestações
Por: Folha de S. Paulo
Publicado em 23 de Julho de 2019 as 12:32 Hrs
Em sessão parlamentar aberta numa praça no centro de Caracas, a Assembleia Nacional convocou os venezuelanos às ruas para uma manifestação nesta terça-feira (23) para marcar os primeiros seis meses desde o juramento do líder opositor Juan Guaidó, 35, como presidente interino da Venezuela.
Outros atos devem ocorrer em todas as capitais do país. Guaidó também participará, via teleconferência, da reunião do Grupo de Lima que ocorre no mesmo dia, no Palácio San Martín, em Buenos Aires.
Nesses seis meses, o opositor colheu algumas vitórias.
Foi reconhecido como representante legítimo por mais de 50 países, obteve apoio contundente dos EUA, conseguiu que a Alta Comissária para os Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, divulgasse relatório denunciando abusos graves do Estado e causou deserções nas Forças Armadas e no Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência).
A última tentativa de tirar o ditador Nicolás Maduro do poder resultou na libertação do líder de seu partido, Leopoldo López. Seu poder de convocatória, no entanto, tem tido altos e baixos. Ainda assim, segue em turnê pelo país.
No último fim de semana, impedido pelo regime de voar até a ilha Margarita, percorreu de lancha os 40 km que a separam do continente. Chegando lá, mergulhou na água e foi recebido por uma multidão.
Entre os aspectos negativos, porém, está seu objetivo primário: Guaidó não conseguiu depor Maduro ou levá-lo à renúncia. Tampouco gerou divisão significativa na base de apoio militar que permitisse pressão interna suficiente para a saída do ditador.
Como consequência, a grave crise humanitária ficou ainda mais aguda. Passou a faltar água, luz e gasolina. Tampouco foi possível fazer entrar no país a ajuda humanitária.
Tanto o Grupo de Lima (reunião de 14 países das Américas) quanto o Grupo de Contato (iniciativa da União Europeia) vêm tentando, até agora, de forma infrutífera, uma saída pela via diplomática.
O Grupo de Lima soma mais apoios. Na reunião de terça estarão, além dos países-membros, como Brasil, Peru, Colômbia, Argentina, México e Canadá, representantes de Honduras, Panamá, Santa Lúcia, Equador e El Salvador.
A União Europeia anunciou novas sanções à Venezuela e declarou que a próxima leva poderia incluir a expulsão de familiares da cúpula chavista que vivem na Europa, como é o caso dos filhos do homem forte do regime, Diosdado Cabello, do chefe das Forças Armadas, Vladimir Padrino, e do ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez.
A mais recente iniciativa de negociação ocorre desde maio com mediação da Noruega, usando a expertise do país em impasses internacionais.
Em Barbados, as conversas se dão entre membros do regime, com Rodríguez à frente, e da oposição, com representantes dos principais partidos: Vontade Popular, de Guaidó e López, Justiça Primeiro, de Henrique Capriles, e a tradicional Ação Democrática.
Apesar de haver esperanças, os venezuelanos têm a lembrança de quatro rodadas fracassadas entre 2017 e 2018, na República Dominicana, com mediação do Vaticano e do ex-primeiro ministro espanhol José Luis Zapatero.
Os noruegueses pedem, como condição principal, que as conversas sejam secretas. Por isso, pouco foi divulgado das tratativas. O que se sabe, porém: as primeiras rodadas, em Oslo e Barbados, fracassaram.
Mas a iniciativa está tendo sequência, com reuniões semanais que vão de segunda a quarta-feira. A Folha apurou junto ao entorno de Guaidó que o item que causa maior divisão é a exigência de eleições livres, independentes, com um novo Conselho Nacional Eleitoral nos próximos meses.
A oposição considera esse ponto inegociável, e os representantes da ditadura pedem que o atual mandato de Maduro seja respeitado.
Os seis itens tratados são: quando seriam as próximas eleições presidenciais, como seria formado um governo de transição, a permissão para a entrada de ajuda humanitária, o destino de presos políticos, o desarmamento de forças paramilitares e se haveria anistia para crimes do período.
Segundo fonte ligada ao chavismo, a ditadura oferece manter o diálogo até que se chegue a consensos, como permissão para a entrada de ajuda humanitária e libertação de presos políticos.
As libertações até agora, porém, frustraram os envolvidos. Quem é solto tem de comparecer a tribunais regularmente e não pode deixar o país.
A repressão aos opositores tampouco terminou. Recentemente, foram presos dois seguranças de Guaidó. Seu chefe de gabinete, Roberto Marrero, está preso desde março.
Há uma eleição, entretanto, que Maduro quer realizar rapidamente: a de uma nova Assembleia Nacional, cujo mandato vai até o ano que vem.
Em comício no dia 19, disse: “Não vejo a hora de tirarmos a espinha que foi a derrota de 2015, recuperar a Assembleia Nacional para a revolução e expulsar esse bando de bandidos”.
Nas entrelinhas, lê-se que será outra eleição de cartas marcadas, como as para Assembleia Constituinte, governadores, prefeitos e presidente.
A oposição, portanto, tem pressa. Quando terminar o mandato da Assembleia Nacional, os foros especiais que os parlamentares de oposição possuem também terminarão, incluindo o de Guaidó.
A pressão aumenta porque a crise humanitária também cresce. Já são 4 milhões os que deixaram a Venezuela e, segundo a OEA, o número dobrará até o fim de 2020.
Outro fator de pressão é a questão da fronteira com a Colômbia, onde atuam milícias paramilitares de um lado e, do outro, Exército de Libertação Nacional e dissidentes das Farc acolhidos por Maduro.
É por isso que Guaidó tem falado das negociações em Barbados com cautela. Paralelamente, ele mantém conversas com representantes do governo chinês, um dos principais apoios econômico e político à ditadura venezuelana.
Guaidó tem dito que as dívidas assumidas por Maduro serão pagas por um eventual governo seu e que investimentos chineses estariam protegidos.
Ele também tem mantido contato com os EUA, sem descartar alternativa militar. Ao jornal El País, disse: “Seria um erro ver essa mediação como solução em si mesma. Se o regime optar por sair por meio dela, seria bem-vindo, mas temos que avaliar responsavelmente todas as opções”.
Maduro diz estar dormindo tranquilamente, mas não tem dormido no Palácio de Miraflores, e sim no Forte Tiúna, uma instalação militar altamente protegida.
- COMENTÁRIOS
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
20:12
Conselho Temático da Agroindústria apoia fim da moratória da soja
A reunião também contou com a participação da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso
16:52
Comissão da Câmara aprova proposta que aumenta prazo para denúncias de violência doméstica
Caso a lei entre em vigor, prazo será dobrado e passará de 6 para 12 meses; texto será analisado pela CCJ
16:50
Desastres naturais geraram prejuízo de R$ 639,4 bilhões aos municípios, diz estudo
Pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) levou em consideração os desastres registrados de 2013 a 2023
16:47
Governo de MT aplicou R$ 478 milhões em multas por crimes ambientais de janeiro a abril
No total, 142 operações foram realizadas nos primeiros quatro meses de 2024; maior parte das autuações ocorreu no bioma amazônico
16:40
Parceria entre Governo de MT e Prefeitura de Juína produz 35 mil mudas de cacau para agricultores familiares
Mudas são entregues gratuitamente a produtores interessados em investir na cultura
16:37
MT tem a maior malha rodoviária do país; entenda a numeração das rodovias
Identificação das estradas segue uma lógica de acordo com o trecho que elas percorrem e sua localização.
16:35
Mato Grosso tem a menor taxa de desemprego do país
Número de pessoas desempregadas no Estado caiu de 83 mil nos três primeiros meses de 2023, para 73 mil, no mesmo período deste ano
16:28
Realizado em Juína o Primeiro Encontro da Educação Municipal com Foco na Educação Especial e Inclusiva
Durante este encontro, foi lançado o Projeto Pedagógico Inclusivo "O Mundo do Theo".
11:01
Prefeitura de Brasnorte Realiza Escolha da Rainha da Brasnorte Rural Show 2024
O evento atraiu uma grande multidão, ansiosa para ver as onze candidatas desfilarem e mostrarem toda sua beleza e elegância.
20:17
Prefeito Edelo Ferrari recebe documentação do Loteamento Parque do Empreendedor I
O Parque do Empreendedor Ivani Ferrari compreende a uma área total de 94 hectares
MAIS LIDAS
Prefeitura de Brasnorte Realiza Escolha da Rainha da Brasnorte Rural Show 2024
Conselho Temático da Agroindústria apoia fim da moratória da soja
Governo de MT aplicou R$ 478 milhões em multas por crimes ambientais de janeiro a abril
Realizado em Juína o Primeiro Encontro da Educação Municipal com Foco na Educação Especial e Inclusiva
Mato Grosso tem a menor taxa de desemprego do país
MT tem a maior malha rodoviária do país; entenda a numeração das rodovias
Parceria entre Governo de MT e Prefeitura de Juína produz 35 mil mudas de cacau para agricultores familiares