Cientistas estão preocupados com leilão de milhões de dólares de um esqueleto de dinossauro
Especialistas defendem que os esqueletos sejam destinados a repositórios públicos para pesquisa
Por: CNN
Publicado em 29 de Julho de 2022 as 16:15 Hrs
Um antigo esqueleto de um Gorgossauro foi leiloado pela primeira vez nesta quinta-feira (28) e vendido por pouco mais de US$ 6 milhões. Quem quer que tenha comprado — a identidade não foi comprovado — agora também terá a oportunidade inusitada de nomeá-lo.
Com cerca de 77 milhões de anos, o Gorgossauro é um parente do mortal Tiranossauro rex, mas mais rápido e com uma força de mordida mais forte, de acordo com a Sotheby’s, organizadora da venda.
A Sotheby’s ofereceu o Gorgossauro como destaque em seu leilão de História Natural que começou nesta quinta.
A expectativa da casa de leilões era atrair lances de até US$ 8 milhões.
O fóssil foi descoberto em 2018 em terras privadas na Formação do Rio Judith, no condado de Choteau, em Montana, e tem 79 elementos ósseos, conforme a Sotheby’s.
Todos os outros esqueletos de Gorgossauro conhecidos estão em coleções de museus, tornando este o único espécime de seu tipo oferecido para propriedade privada — o que alguns cientistas consideram problemático.
“Na minha carreira, tive o privilégio de manusear e vender muitos objetos excepcionais e únicos, mas poucos têm a capacidade de inspirar maravilhas e capturar a imaginação como esse inacreditável esqueleto de Gorgossauro”, afirmou Cassandra Hatton, chefe global de ciência e cultura popular da Sotheby’s, em um comunicado à imprensa.
“Escavado há apenas alguns anos, um Gorgossauro nunca foi oferecido em leilão, e a oportunidade de compartilhar este dinossauro com o público pela primeira vez é um imenso prazer e um destaque na minha carreira.”
Com pouco mais de 2,8 metros de altura e 6,7 metros de comprimento, o Gorgossauro era um carnívoro alfa que residia nos Estados Unidos e no Canadá durante o final do período Cretáceo.
Assim como o T. rex, o Gorgossauro é um terópode grande e possui características semelhantes ao “irmão”, uma cabeça enorme com dezenas de pontas afiadas, dentes curvos e dois pequenos membros frontais.
“Como o mestre caçador de seu tempo — se acredita que ele caçava em bandos de quatro — o Gorgossauro era uma força dominante e um predador singular”, detalhou Sotheby’s.
O nome do dinossauro é derivado de palavras gregas para “lagarto feroz”.
Leilões de fósseis e ética
A venda do Gorgosaurus é a segunda venda da Sotheby’s de um esqueleto de dinossauro fossilizado.
Em 1997, a casa de leilões vendeu o fóssil de T. rex apelidado de Sue, um dos maiores e mais completos fósseis de dinossauro já encontrados, para o Field Museum, com sede em Chicago, por US$ 8,36 milhões.
O espécime recebeu o nome da colecionadora Sue Hendrickson. Escavado em Dakota do Sul, Sue foi o fóssil mais valioso já vendido em leilão na época.
O leilão de Sue também foi controverso e, na ocasião, o exemplo mais recente do desafio da gestão de recursos fósseis: John W. Hoganson, paleontólogo emérito do North Dakota Geological Survey, escreveu, em uma edição de 1998 do boletim da pesquisa, sobre o impacto potencial no avanço científico de “um próspero mercado internacional de fósseis e a resultante coleta e venda de fósseis por aproveitadores”.
“A comunidade profissional de paleontologia antecipou ansiosamente o leilão do T. rex por causa da incerteza se o espécime importante acabaria em uma coleção particular, tornando-o indisponível para estudo científico e exibição pública, ou em um repositório público neste país”, afirmou. “A preocupação final era o efeito que a venda teria na ciência da paleontologia.”
Durante o mandato de Hoganson, ele estabeleceu a Coleção de Fósseis do Estado de Dakota do Norte e esteve envolvido na criação de uma lei federal para proteger os recursos fósseis em terras federais nos EUA.
Stan, o esqueleto de Tiranossauro rex mais completo do mundo, estabeleceu um novo recorde mundial em 2020, quando foi vendido por US$ 31,8 milhões na Christie’s.
No momento da venda, os paleontólogos temiam que o fóssil estivesse perdido para a ciência, mas, em março, o Departamento de Cultura e Turismo de Abu Dhabi revelou planos para Stan ser uma atração principal em um novo museu de história natural, com inauguração prevista para 2025 em Abu Dhabi, como relatou anteriormente.
Alguns cientistas não estão felizes que essa tendência continue.
“Na minha opinião, existem apenas contras”, disse P. David Polly, professor e presidente do departamento de ciências da Terra e atmosféricas da Indiana University Bloomington.
“Embora certamente não haja lei nos EUA que apoie que os fósseis saíam de terras privadas, é muito fácil para mim como cientista argumentar que esse fóssil é importante para todos nós, e que ele realmente deveria estar indo para um repositório público, onde pode ser estudado — onde o público em geral pode aprender com ele e se divertir.”
Os fósseis em terras privadas pertencem a indivíduos privados que podem fazer o que quiserem com eles, enquanto os fósseis em terras públicas são regulamentados pelo governo federal e pertencem essencialmente ao governo ou “às pessoas, se você preferir”, explicou Polly.
“Quando há um fóssil que vai a leilão como este, e se prevê que faça milhões de dólares, uma das coisas que faz é dizer aos proprietários privados que os fósseis em suas terras realmente deveriam ser monetizados”.
Outros especialistas científicos, no entanto, reconheceram que a coleção de museus inclui historicamente aquisições de fontes comerciais.
“Fico triste que haja um preço para os dinossauros”, mas “não é uma questão de preto ou branco”, apontou Gregory Erickson, professor de anatomia e paleobiologia de vertebrados da Universidade Estadual da Flórida em Tallahassee. “Há um histórico de museus comprando espécimes comerciais.”
“É um admirável mundo novo para a nossa ciência”, disse o paleontólogo de vertebrados Steve Brusatte, professor e Presidente Pessoal de Paleontologia e Evolução da Universidade de Edimburgo.
“Em um mundo onde esqueletos de dinossauros valem milhões, onde isso deixa cientistas e museus, que não podem pagar preços tão inflacionados?”
E o que Polly achou que seria o melhor resultado para esse leilão?
“Que quem está vendendo ouviria o que acabei de dizer e teria uma experiência de conversão e doaria para um museu”, pontuou ele. “O segundo melhor seria que alguém rico ouvisse esse tipo de mensagem e desse muito dinheiro (para um museu) para que o estabelecimento pudesse comprar o fóssil”.
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