
Juína: A história do homem que passou fome, dormiu na praça coberto com jornal, mas deu a volta por cima
Você pode amá-lo ou odiá-lo, mas você precisa saber que sem dúvida nenhuma, ele é um grande fomentador do esporte regional.
Por: IVAN PEREIRA, Repórter em Ação
Publicado em 31 de Agosto de 2021 as 18:17 Hrs
Osvaldo da Cunha Lins: Você pode amá-lo ou odiá-lo, mas você precisa saber que sem dúvida nenhuma, ele é um grande fomentador do esporte regional. Não podemos negar seu amor e envolvimento com o esporte e com a cultura juinense.
Em outubro de 2021, ele completará seus 67 anos de vida, são quase 7 décadas marcadas por desafios, dificuldades, mas também de momentos vitoriosos. Ele deu a volta por cima na mesma cidade que dormiu na rua, frequentando a alta sociedade local.
Osvaldo é nordestino “cabra da peste”, nasceu em Catende – Pernambuco, uma cidade com um pouco mais de 40 mil habitantes. Mas foi em Araraquara, estado de São Paulo, a 277 km da capital paulista, que ele viveu parte da infância e adolescência. Ali entrou para os primeiros empregos, encontrou o amor pelo samba, as primeiras namoradas, e também enfrentou um grande inimigo: a fome.
Recentemente Osvaldo recebeu o repórter Ivan Pereira em sua humilde residência no módulo 5, preparou um banquete no café da tarde e abriu seu coração para esta reportagem especial.

Foto: Ivan Pereira, Repórter em Ação
Osvaldo, conhecido na infância como Caetano, por se parecer com o cantor Caetano Veloso à época, conta que aos 7 anos de idade, saiu para morar na rua, mas nunca abandonou os estudos.
“Um dia a professora Ana Lúcia disse, ‘uai, porque o Caetano tá lá fora?’. Ela me chamou e perguntou: ‘Porque você não entrou?’. Eu falei, porque eu estou descalço. Eu não tenho uma conga pra entrar, é por isso que não estou indo na aula professora! Aquele aluno lá está me zoando e eu não quero brigar com ele. Pior que meus amigos traziam os cadernos e eu copiava no banco do jardim. No outro dia, a professora me deu um par de tênis, foi o maior presente que ganhei na vida, foi o tênis pra entrar para estudar”, lembra Osvaldo.
Estudos naquela época, eram bem diferentes dos dias atuais. “Tinha disciplina na escola. Enquanto não cantasse o hino nacional brasileiro ninguém entrava em sala de aula”, recorda.
Morando na rua aos 8 anos de idade, Osvaldo conta que encontrou para dormir um hotel em construção. “Quando começava a chover, 3º andar, parecia uma mansão pra mim. Eu dormia com papelão, dormia com jornal”.
Aos 9 anos começou a trabalhar em um mercado e teve uma atitude incrível. “O que sobrava no chão, eu pegava caixa de maçã, batatinha, tudo que era legumes, saia do mercado até a casa da minha mãe, chegava lá toda quinta-feira, abria o portão devagarinho, colocava lá na porta da casa e fugia pra rua. No natal eu fazia melhor, eu ganhava frango, leitoa. Botava tudo numa caixinha três dias antes e ia lá deixar. [Repórter: Mas sua família sabia disso?] – Não sabia que era eu, hoje eles sabem”.
Essa situação de rua perdurou por pelo menos 10 anos e Osvaldo tinha tudo pra trilhar caminhos perigosos, e até sem volta. “Eu tive tudo pra não está aqui. De 9 meninos que frequentavam a região onde eu ficava, os 9 foram mortos. Fui o único que sobreviveu, porque eu tinha conduta de moleque de rua, mas não era moleque de rua e a sociedade gostava de mim porque eu nunca andei sujo”.
Mas na vida, desde que se acredita, toda dor tem um fim. Osvaldo foi “salvo” por uma mulher dona de um prostíbulo. “Uma dona de bordel que me tirou de vez da rua. Ela andava com um engenheiro e perguntou se ele não poderia dar uma chance pra mim. Falei meu Deus, é a chance da minha vida. O engenheiro me deu o emprego de apontador de obras, nos municípios de Rio Claro, Piracicaba, Campinas e São Paulo na firma Sigma Engenharia”.
Depois se tornou vendedor, e as coisas começaram a mudar de vez. “Eu vivi. Comecei a fazer samba enredo, diretor de bateria e fui até campeão e vice-campeão”.
Osvaldo conta que também era bom de bola e não seguiu carreira profissional devido a um problema sério. “Fui fazer um teste na Ferroviária mais eu tive problema de enfisema pulmonar por ter dormido no banco de jardim”.
Após “virar a chave da vida”, Osvaldo se muda para Juína em março de 1989. No município, começaram novos desafios que fizeram pensar em voltar para Araraquara. “Foi então que o secretário de saúde Anésio Guatura, mandou eu levar os documentos que ele ia me arrumar um emprego na fiscalização sanitária. Naquele dia, foi o dia que eu arrumei minha mala mesmo, por causa de um cidadão que trabalhava no RH. Eu gaguejava muito quando eu cheguei, graças a Deus hoje gaguejo menos. E ele disse que gago não servia pra ser fiscal em Juína. Fui embora pra casa e no outro dia seu Anésio me chamou, até me ofendeu dizendo que eu era vagabundo e não tinha palavra de homem, eu disse que era muito homem, quem não era homem era um cidadão que me recebeu na prefeitura e disse que eu era gago. Seu Anésio foi comigo na presença do cidadão e disse que ele que mandou me contratar. Então foi a partir daí que eu comecei a fazer meu trabalho em Juína. Com muito orgulho que posso dizer que ajudei esse município”.
Mais tarde Osvaldo se firmou no cargo ao passar no concurso público e atuou na função até se aposentar. Foram mais de 30 anos dedicados a fiscalização.
Nesse período entrou na vida dele também o esporte, mas não como jogador, e sim, como árbitro. “Comprei minha casa apitando jogos”. Sem contar que ele entrou na profissão por acaso. “Um dia faltou um árbitro no jogo e me escalaram, eu apitei, todo mundo gostou e eu também”.

Ao lado de outros desportistas, ajudou a criar a Liga Esportiva Juinense de Futsal (LEJF). “Quem me ajudou com dinheiro foi o Prego e o Genésio Böer, porque não tinha dinheiro para registrar a liga. Nossa primeira reunião foi realizada na Escola Ana Neri, onde fiquei como vice-presidente e o Vairo Moraes como presidente. Daí em diante começamos a organizar os eventos”.
Algum tempo depois, Osvaldo vira presidente da Liga e bota em prática uma mudança importante. Diferente dos anos anteriores onde os campões levavam apenas troféus, Osvaldo teve a ideia de distribuir as equipes vencedora uma premiação em dinheiro, tornando seus eventos muito mais atrativos. “Eu cheguei a dar R$ 50 mil de premiação no campeonato regional”.
A fama de árbitro ganhou Mato Grosso e Osvaldo apitou partidas em mais de 70 cidades. “Apitei Copa Centro América, jogos estudantis, jogos regionais, tanto futebol de salão e futebol de campo”.
Apaixonado por Juína, o árbitro faz questão de divulgar o nome da cidade por onde passa. “Quando dou entrevista, eu peço aos atletas e empresários para que visitem Juína que tem muito campo para indústria e comércio”.
Prestes a comemorar seus 67 anos, Osvaldo foi convocado mais uma vez pela Federação Mato-grossense de Futsal para apitar dias 9 e 12 de setembro, em Sorriso, os jogos estudantis.
Aposentado dos serviços públicos, Osvaldo fiscal como ainda é conhecido, diz que se arrependeu. “Me aposentei e me arrependi, porque o aposentado, mesmo que ele tenha qualidade, qualificação, ele é menosprezado pela sociedade. Hoje eu me sinto inútil, ao mesmo tempo me sinto útil porque quero viver”.
As regras dos esportes mudam constantemente, e Osvaldo afirma que é necessário se reciclar todos os anos. Por formar novos árbitros, ele ganhou o apelido carinhoso de professor Osvaldo.

Casado a 42 anos com a professora Rosimere, são pais de Jackeline; Osvaldo também é pai de Luciano, fruto do primeiro relacionamento, e vovô da Giovana (filha da Jack).
Osvaldo Lins, Osvaldo Fiscal, Professor Osvaldo, Caetano... Esta é parte da história de vida dele.
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