Organização usa cabelos humanos para limpar derramamentos de petróleo
Naturais e biodegradáveis, os cabelos humanos e pelos animais são uma alternativa ao uso de plásticos na limpeza de vazamentos
Por: CNN
Publicado em 19 de Maio de 2022 as 16:12 Hrs
Com sua organização sem fins lucrativos localizada em São Francisco, a Matter of Trust, Gautier transforma cabelos doados em tapetes para secar derramamentos de petróleo na terra, e tubos usados para vazamentos no mar.
Uma forma comum de limpar vazamentos de petróleo em terra é usar tapetes feitos de polipropileno, que é um plástico não biodegradável, processo que acaba produzindo mais plásticos e abrindo espaço para mais derramamentos.
Cabelos, ao contrário, é um recurso sustentável que pode absorver cerca de cinco vezes o seu peso em petróleo, de acordo com a Matter of Trust, e apesar de não crescer em árvores, é abundante. “Há cerca de 900 mil salões de beleza licenciados nos Estados Unidos”, disse Gautier. “Eles podem facilmente cortar uma libra de cabelos (cerca de 0,4 quilogramas) por semana”.
“Nosso projeto é desviar isso dos aterros”, acrescentou. “Faz muito mais sentido utilizar um recurso renovável e natural para limpar derramamentos de petróleo, do que extrair mais petróleo para usá-lo na limpeza.”
Problema de crescimento
Vazamentos de petróleo podem contaminar a água potável, colocando em risco a saúde pública, danificando plantas e a vida selvagem, além de causar problemas econômicos.
Em 2021, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica registrou 175 incidentes de vazamento no mar e em terra somente nos Estados Unidos, e globalmente, cerca de 10 mil toneladas de petróleo foram perdidas no meio ambiente após vazamentos em navios-petroleiros. Segundo a Matter of Trust, quando apenas um quarto (cerca de um litro) de óleo entra no sistema aquático, 1 milhão de galões de água potável podem ser contaminados.
Neste ano, ocorreram grandes vazamentos na Tailândia e no Peru, que juntos somaram mais de 513 mil galões de petróleo.
De acordo com Gautier, os vazamentos que chegam às manchetes representam apenas 5% da contaminação global por petróleo. Mais comuns, mas ainda prejudiciais ao meio ambiente, são os vazamentos de veículos em estradas e escoamentos naturais do subterrâneo e do solo marinho.
De raízes de grama a raízes de cabelo
Gautier cofundou a Matter of Trust com seu parceiro, Patrice Gautier, em 1998, com o objetivo de lidar com uma série de problemas ambientais. Três anos depois, um navio-petroleiro encalhou em San Cristobal, uma das Ilhas Galápagos, e empenhados em ajudar os esforços de limpeza, os Gaultiers se uniram ao cabeleireiro Phillip McCrory.
Em 1989, McCrory desenhou um protótipo de um dispositivo que usava cabelos para absorver o óleo, que foi testado pela Nasa e parecia funcionar bem. Juntos, a Matter of Trust e McCrory desenvolveram canos e tapetes feitos de cabelos humanos e pelos de animais.
Todos os dias, salões, pet shops e indivíduos mandam cabelos para o depósito da Matter of Trust em São Francisco. Os pacotes são analisados em busca contaminadores, como detritos, sujeira ou piolhos, e então os cabelos são separados, estendidos em uma moldura, e passam por uma máquina customizada de feltro para fazer os tapetes.
São necessários 500 gramas de cabelos para criar um tapete de cerca de 0,2 metros quadrados de extensão e 2,5 centímetros de espessura, que pode absorver até 5,6 litros de petróleo.
A maior parte da limpeza da Matter of Trust é feita em terra firme, seja lidando com vazamentos terrestres, ou os danos na costa causados por vazamentos no mar. A organização afirma que cerca de metade de seus produtos são vendidos por órgãos como a Força Aérea dos EUA e departamentos governamentais, e a outra metade é doada, normalmente para voluntários na limpeza.
Segundo Gautier, a Matter of Trust já produziu mais de 300 mil canos e 40 mil tapetes de cabelos para grandes limpezas, incluindo o derramamento de petróleo do navio Deepwater Horizon da BP no Golfo do México, em 2010 – fazendo tudo desde descontaminar encanamentos, até secar o petróleo de veículos e máquinas com vazamentos.
Cabelos em todo lugar
Megan Murray, uma bióloga ambientalista e chefe associada da escola de ciências da vida na Universidade de Tecnologia de Sydney, na Austrália, desenvolve tecnologias sustentáveis para lidar com vazamentos de petróleo. Suas pesquisas incluem absorventes feitos com cabelos – materiais que podem ser usados para recuperar um líquido.
Ela diz que um grande problema sobre como respondemos neste momento a derramamentos de petróleo é que os produtos de polipropileno utilizados geralmente são descartados em lixões e aterros.
O estudo de Murray indica além de ser biodegradável, o cabelo humano é geralmente tão efetivo quanto o polipropileno, e, em algumas circunstâncias, ainda melhor.
“Os tapetes com cabelos são muito bons para derramamentos terrestres”, disse, acrescentando que quando o petróleo cru é derramado na areia da praia, é muito difícil absorvê-lo usando qualquer um dos outros materiais que testou, mesmo usando cabelos ou polipropileno.
Outra vantagem dos cabelos é que custam menos que os materiais convencionais, e é “acessível globalmente como material reciclável”, ela declarou. “É muito animador pois é um material que pode trazer benefícios para comunidades que não podem comprar produtos mais populares e mais caros”.
Murray avisa que os tapetes de cabelos não são a solução perfeita, pois só podem ser usados uma vez e podem ser descartados apenas por incineração ou compostagem na terra, que se torna imprópria para o cultivo de alimentos. Agora, ela está procurando métedos de extrair o petróleo de um tapete de cabelos já utilizado, para que os dois elementos possam ser reaproveitados.
“Qualquer um pode fazer um tapete de cabelos”
A Matter of Trust está expandindo sua rede de parceiros locais, que produzem tapetes com cabelos fornecidos nas regiões, em 17 países do mundo, incluindo a Finlândia, o Japão, o Chile e Ruanda. Gautier diz que centros individuais são mais lucrativos do que pequenas contribuições para manter o projeto em apliação.
Como os desenhos não são patenteados, outros grupos começaram a produzir seus próprios tapetes e canos, como a britânica Green Sallon Colective, que trabalha para tornar a indústria da beleza mais sustentável.
Gautir está feliz de ver o movimento crescendo. “Qualquer um pode fazer um tapete com cabelos”, ela disse. “Cria empregos mais verdes, limpa a água, reduz o descarte em aterros, e promove recursos renováveis.”
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