Alta do dólar pesou mais no preço dos combustíveis do que valor do petróleo
O setor de petróleo sofreu muito com a pandemia da Covid-19.
Por: CNN
Publicado em 23 de Fevereiro de 2021 as 09:51 Hrs
O preço dos combustíveis varia, principalmente, de acordo com duas grandes variáveis: o valor do barril de petróleo e, por ser uma commodity negociada internacionalmente, o valor do dólar.
É verdade que em 2021, o valor do petróleo tipo Brent, que é o utilizado como referência pela Petrobras, subiu quase 15%. Porém, se observarmos um horizonte mais longo, de mais de 12 meses, o principal vilão da alta do preço da gasolina e do diesel é a moeda americana, que fechou em R$ 5,45 nesta segunda-feira (22).
O setor de petróleo sofreu muito com a pandemia da Covid-19. O barril começou 2020 custando cerca de US$ 68, e em abril despencou para menos de US$ 5. Afinal, se as pessoas estavam trancadas em casa, para que o petróleo iria servir?
Com a retomada das economias, o preço foi voltando ao lugar. No pregão da última sexta-feira (19), o Brent alcançou um valor de US$ 64,44 pelo barril. Apesar da notória alta em comparação aos piores momentos, o barril de petróleo ainda acumula uma queda de 6,9% em relação ao preço praticado em janeiro do ano passado.
O valor dos combustíveis no Brasil, contudo, não seguiu essa queda. Em janeiro de 2020, em média, o brasileiro pagava R$ 4,58 pelo litro da gasolina segundo dados da Associação Nacional do Petróleo (ANP). Agora, precisa desembolsar R$ 4,83, em média --porém, em diversos estados já se paga mais do que R$ 5 pelo litro.
Dólar é maior vilão
Logo, a outra variável pode ser considerada a principal vilã dessa alta do combustível. De janeiro de 2020 para cá, o dólar subiu 34% em relação ao real. Na segunda-feira (22), a situação continuou complicada, com o dólar chegando a ultrapassar os R$ 5,50. Isso fez com que o Banco Central (BC) promovesse um leilão de US$ 1 bilhão para diminuir o estrago.
“Quando olhamos em um horizonte maior, o câmbio foi muito mais importante para a alta do combustível do que o petróleo”, diz Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria.
E por que o câmbio está tão descolado? Obviamente que a taxa básica de juros no menor patamar da história, de 2% ao ano, ajuda. Mas, segundo Ribeiro, há embutido no câmbio brasileiro uma percepção de risco muito grande por causa do desequilíbrio das contas públicas.
"O ambiente político e as investidas contra a Petrobras não ajudam. Então, o governo, sim, é um dos principais responsáveis por esse câmbio descolado", diz ela. E, quanto mais os representantes do governo federal dão declarações polêmicas, mais o dólar sobe por causa da instabilidade.
E existe outro grande problema: o preço do petróleo, apesar de ainda não estar no mesmo patamar de 2020, deve subir mais.
"Temos a expectativa de novas altas do preço do petróleo por causa da recuperação mundial", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, que também lembra que a tarifa de energia deve subir neste ano. Segundo ele, isso deve piorar a situação porque "o governo vai tentar interferir nos preços." Logo, mais instabilidade.
Impactos além da Petrobras
O problema é que essa instabilidade política e intervenção governamental impacta diretamente não apenas a Petrobras e as empresas estatais, mas todos os outros indicadores econômicos.
Não por acaso, algumas previsões para a economia do país já pioram. A inflação é o grande exemplo. A corretora XP acredita que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve encerrar o ano em 3,9%, em vez dos 3,5% estimados anteriormente. O banco suíço Credit Suisse é mais pessimista: alta de 4,5%, ante 4,2% que o banco tinha em suas previsões. O centro da meta do Banco Central neste ano é de 3,75%.
Logo, para controlar a inflação, economistas acreditam que a taxa de juros deve subir mais em 2021. No Boletim Focus, divulgado pelo BC nesta segunda-feira (22), a expectativa é que a taxa Selic termine o ano em 4%. Há um mês, a previsão era de 3,5%.
Ainda no Focus, pela terceira semana seguida, a expectativa para o PIB deste ano recuou. Agora, a expectativa é que o PIB cresça 3,29%, em vez de 3,49%.
A ver se o governo conseguirá retomar a confiança dos investidores – e como fará isso.
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