
Vacina de Oxford traz tecnologia nunca usada em larga escala
Engenharia genética usa vírus que causa resfriado comum em macacos acoplado a partículas do novo coronavírus para induzir resposta imune
Por: R7
Publicado em 29 de Julho de 2020 as 11:53 Hrs
Uma vez aprovada por órgãos reguladores, a vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca vai representar um novo marco tecnológico na forma como as imunizações são criadas. Isto porque nada parecido foi usado em larga escala até hoje.
Tradicionalmente, vacinas demoram vários anos até serem liberadas pelas autoridades de saúde.
A expectativa é que os primeiros antígenos contra o novo coronavírus estejam disponíveis comercialmente no ano que vem, um tempo recorde.
Diante da pandemia, algumas tecnologias de fabricação de vacina já em uso, como vírus vivo atenuado, não podem ser aplicadas, conforme explica o professor titular de de imunologia clínica e alergia da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e diretor do diretor do Laboratório de Imunologia do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP) Jorge Kalil.
"Para uma vacina com vírus atenuado, você tem que fazer estudos muitos extensos regulatórios para mostrar que esse vírus efetivamente não causa doença. Ninguém quer fazer uma vacina que se precise de muito tempo regulatório, porque se quer a vacina logo e não se sabe como é que vai atenuar [o vírus]. Isto demoraria muito tempo."
Quando surgiram as primeiras evidências de que a covid-19 poderia se tornar pandêmica, cientistas da Universidade de Oxford adaptaram rapidamente uma linha de pesquisa em vacina já existente.
O trabalho para criar um antígeno contra o novo coronavírus começou em 10 de janeiro, logo após a publicação da sequência genética do vírus.
A equipe já tinha à disposição uma plataforma vacinal que pode ser adaptada em um curto espaço de tempo para novos vírus, chamada ChAdOx1 (abreviação de chimpanzé adenovírus Oxford).
Como o próprio nome diz, o veículo é um adenovírus de chimpanzés. Este é um tipo de vírus inofensivo e enfraquecido que geralmente causa resfriado comum nos primatas.
"As equipes já haviam usado a tecnologia de vacina ChAdOx1 para produzir vacinas candidatas contra vários patógenos, incluindo gripe, zika e síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS), outro coronavírus. Eles já haviam começado a trabalhar na preparação para uma pandemia com a tecnologia por trás do ChAdOx, em preparação para 'Doença X'. Quando a doença surgiu na China, eles se moveram rapidamente", explica a Universidade de Oxford.
O fato de o adenovírus de chimpanzés ser entendido pelo organismo como "algo novo" ajuda o sistema de defesa. acrescenta Kalil.
"Se escolhe um vírus humano, você já pode ter anticorpos contra o vírus e não deixa desenvolver uma boa resposta [imunológica] contra a proteína que você quer fazer, que é de outro vírus."
A partir daí, os pesquisadores acoplaram ao adenovírus partes do coronavírus que julgaram ser importantes para ativar o sistema imunológico, o que foi feito por meio de um trabalho de engenharia genética.
Na prática, o adenovírus serve de transporte para o que de fato interessa: os fragmentos do coronavírus necessários para induzir o sistema de defesa.
A parte escolhida para ser inserida no vírus do chimpanzé foi a proteína spike, presente na "coroa" do vírus.
Essas estruturas, em formato de tacos, são as que se conectam às moléculas ACE2 nas células dos pulmões. É por elas que o vírus SARS-CoV-2 entra e causa a covid-19.
O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA classifica as vacinas baseadas em plataforma como o futuro da imunização por serem "especialmente boas em ensinar ao sistema imunológico como combater os germes".
Por ser uma tipo de imunizante nunca produzido, qualquer país do mundo que deseje fabricá-lo em larga escala precisará construir ou adaptar fábricas de vacinas já existentes.
É o que pretende fazer a Fiocruz, após acordo de compra de lotes e transferência de tecnologia com a AstraZeneca, detentora dos direitos comerciais da vacina de Oxford.
A instituição já trabalha para fazer as adequações necessárias no Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Bio-Manguinhos, no Rio de Janeiro, com objetivo de deixar tudo pronto para a produção em larga escala a partir dos primeiros meses de 2021, a depender de autorizações da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
“Nosso foco tem sido em vacinas em estágio mais avançado, com potencial tecnológico para atender às demandas do Ministério da Saúde e que utilizem plataformas que possam vir a ser reaproveitadas para outras emergências.
A vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford atende a esses critérios. Isso significa que, como não estamos apenas comprando os lotes de vacinas e sim internalizando a produção, caso ela não se mostre eficaz após os ensaios clínicos, ainda assim poderemos aproveitar essas novas plataformas tecnológicas adquiridas e aprimoradas para outras linhas de produção”, explica o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger.
Com o investimento, a Fiocruz poderá produzir até 40 milhões de doses mensais da nova vacina. O objetivo também é fornecer o antígeno a outros países que não tem capacidade de produção.
Instituto Butantan
Outra vacina testada no Brasil pelo Instituto Butantan é a Coronavac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech.
Um acordo com o governo de São Paulo prevê que, além dos estudos clínicos, a produção em larga escala.
A vacina utiliza uma tecnologia que o Butantan já domina, que é a de vírus inativado.
Esse tipo de imunização requer novas doses ao longo da vida para garantir a proteção. Alguns exemplos já existentes são de vacinas contra gripe, hepatite A e raiva.
Todas as vacinas contra influenza aplicadas pelo SUS são fabricadas pelo Butantan. Neste ano, a encomenda foi recorde: 75 milhões de doses.
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