É FAKE que remédios para Covid-19 levaram pacientes a fila de transplante de fígado
Não há relação comprovada, tampouco histórico deste tipo de reação. Nenhum dos medicamentos para covid está na lista das medicações com maior efeito hepático do mundo
Por: Cristian Derosa, Estudos Nacionais
Publicado em 25 de Março de 2021 as 11:09 Hrs
Diversas reportagens de jornais como o Estadão, G1 e outros, vêm associando episódios de hepatite medicamentosa e casos de possível necessidade de transplante de fígado ao chamado “kit covid”, conjunto de medicamentos que vêm apresentando eficácia contra Covid-19. Contudo, não existem estudos científicos que vinculem medicamentos como ivermectina a risco de complicações no fígado.
“O uso do chamado kit covid, que reúne medicamentos sem eficácia contra a doença, mas que continua sendo prescrito por alguns médicos e propagandeado pelo presidente Jair Bolsonaro, levou cinco pacientes à fila do transplante de fígado em São Paulo e está sendo apontado como causa de ao menos três mortes por hepatite causada por remédios, segundo médicos ouvidos pelo Estadão“.
A afirmação acima É FALSA. Não há vínculos estatísticos, médicos ou científicos que apontem para a causalidade entre o uso do medicamento amplamente receitado há 40 anos e um evento adverso que leva ao risco de transplante de fígado. Se o jornal quisesse fazer afirmação mais segura poderia ter escrito que os casos podem ter levado cinco pacientes à fila do transplante de fígado e não levou, como sentenciou o jornal.
De acordo com o médico otorrino, Carlos Nigro, doutor em ciências pela USP, o fato de ter havido uma hepatite medicamentosa não indica que foi os medicamentos do kit covid. A matéria dizia que a única coisa que o paciente havia tomado nos últimos quatro meses foram os medicamentos. “O médico está inferindo que ‘só pode ter sido o kit’ e qual seria? A Ivermectina. Mas a Ivermectina não tem nem metabolização hepática”, lembra Nigro. Ele acrescenta que a hepatite aguda não é tão rápida e que pode ter relação com medicamentos utilizados no último ano inteiro.
Em outro aspecto, o doutor Francisco Cardoso acrescenta que o Paracetamol é uma das medicações mais hepáticas que existe e é receitado nas UPAs e por toda a parte por médicos que dizem estar tratando Covid.
Um texto do médico Jayme Vaz Brasil explica o que infelizmente ocorre quando uma pessoa vai ao hospital com Covid.
“Quando a pessoa é infectada pelo Covid e busca atendimento, costuma receber a orientação de ir pra casa e tomar Dipirona e Paracetamol. Se, depois de alguns dias, estiver pior – com falta de ar -, aí sim: deve ir ao hospital”, escreve.
“Mas você sabia que Dipirona é proibida em vários países, dentre os quais Estados Unidos e Suécia? E, além disso, tem uso restrito em pelo menos outros 33 países, em função da confirmada possibilidade de problemas graves, inclusive Agranulocitose (do tipo irreversível) e Anemia Hemolítica? Pois é. O efeito benéfico da Dipirona no Covid é apenas sintomático: diminui a febre e pode diminuir algumas dores no corpo. Nada mais, absolutamente nenhuma possibilidade de ajuda realmente efetiva. Nenhuma ação antiviral. E é facilmente substituível por outros de igual ação”, explica.
“A Ivermectina, por sua vez, além de seu uso convencional nas parasitoses, possui ação antiviral (comprovada em vitro)”.
Ainda assim, a relação é complexa e necessitaria de estudos que comprovassem, uma vez que se trata de medicamento que, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), é 38 vezes mais seguro que a aspirina, que tem anualmente 3.790% mais notificações de reações adversas do que a ivermectina. Os médicos envolvidos com os casos citados de pacientes que adoeceram após terem covid e tomarem ivermectina deveriam fazer notificações junto à Anvisa para que os casos fossem estudados. Até isso acontecer, assustar as pessoas com medicamentos que estão entre os mais seguros do mundo pode representar desserviço à saúde pública.
De acordo com o infectologista Ricardo Zimmerman, em uma live recente, a Ivermectina já possui mais de 4 bilhões de receita e só agora aparecem casos suspeitos, mesmo assim, sem relação comprovada com o medicamento. Ter algum problema com a Ivermectina, disse Zimmerman, “é como ganhar na loteria ao contrário”.
A matéria do Estadão misturou argumentações, confundindo os leitores. Apresentou uma observação de médicos, associando a dados estatísticos de aumento de uso de ivermectina, sem qualquer base para relação científica entre medicamentos e as complicações, que são raríssimas há mais de 40 anos. Em termos de notificação de reações adversas, dentre os medicamentos mais perigosos hepaticamente está, por exemplo, o paracetamol, remédio preferido de médicos contrários ao chamado “kit covid-19”, que não inclui paracetamol.
Segundo a médica e ultrassonografista, dra. Lucy Kerr, a metabolização hepática da Ivermectina é mínima e isso é amplamente conhecido na comunidade médica. Em vídeo recente, ela explicou que o risco de problemas hepáticos com a Ivermectina é baixíssimos, podendo ser receitada com segurança até mesmo para pacientes com cirrose hepática.
Para se ter uma ideia, pode-se comparar o uso desses medicamentos com as vacinas atuais que estão sendo administrada a milhares de brasileiros, que contam ainda com poucas, mas relevantes reações adversas. Todas as notificações de reações adversas necessitam de uma investigação, a cargo da Anvisa, e portanto não seriam ainda motivo para preocupação. No caso de vacinas administradas de modo emergencial e experimental, porém, a situação é um pouco diferente.
Em relação às suspeitas de óbitos que podem ter sido causados por vacinas, jornais da grande mídia alegam frequentemente que não há evidências estabelecidas de vínculos entre vacinas e óbitos, o que é verdade. Em termos gerais, o mesmo se dá com medicamentos usados há décadas e sem histórico de complicações. A diferença é que, além dos recentes estudos que mostram eficácia de mais de 70% no tratamento precoce para Covid, e 89% no uso profiláxico, há sobre eles tempo suficiente de uso para que fosse estabelecida evidência de riscos, o que não ocorreu.
A Ivermectina é um dos medicamentos mais seguros do mundo. Em 2015, um Prêmio Nobel de Medicina foi concedido aos seus descobridores, Satoshi Ōmura no Japão e William Campbel, nos Estados Unidos. Além dessa ação sobre os parasitas, a ivermectina tem ação viricida, testada e adotada inicialmente em uma série de infecções virais em animais, como a pseudo-raiva suína causada por um vírus de RNA, como o Sars-COV-2. Em humanos, estudos estão em andamento contra diferentes variedades de flavivírus, como dengue, Zika, Chikungunya e o vírus responsável pela infecção do Nilo Ocidental. Os resultados clínicos do Sars-cov-2 são muito promissores (esta apresentação do Dr. Paul Marik fornece uma visão geral do estado de conhecimento e hipóteses sobre os modos de ação da ivermectina).
Na medicina, quanto mais eficaz um tratamento, maior a probabilidade de ter efeitos colaterais em outros órgãos, o que faz sentido. Mas não para ivermectina, ele é inofensivo. Se olharmos para o Vigibase, o banco de dados da OMS que há 30 anos coleta os efeitos colaterais de cada agência de medicamentos em mais de 130 países, encontraremos 175.208 notificações para Aspirina, 159.824 para Doliprano e 4.614 para Ivermectina. De 4 bilhões de prescrições neste período, isso é 0,0001% de efeitos colaterais. É difícil atribuir todos esses efeitos apenas à ivermectina, muitos dos quais se devem à liberação de resíduos de parasitas mortos e, para Covid, a outras drogas associadas. Em comparação, desde o início do ano, este banco de dados relata 65.188 notificações para Comirnaty (vacina da Pfizer), em comparação com 46 para Ivermectina.
Em seu relatório de 11 de janeiro sobre esses efeitos colaterais no tratamento da Covid, o ANSM não relata quaisquer problemas. Das 15.143 especialidades farmacêuticas reembolsadas na França, certamente é a molécula, ou uma das moléculas que apresenta o menor risco. “A ivermectina é segura e pode ser usada em grande escala”, escreve a OMS. Estudos in vitro e arquivos MA mostram que as doses efetivas são baixas em comparação com as doses potencialmente problemáticas, isto foi testado até 10 vezes a dose em humanos, sem reação. Um estudo foi feito até em cães com 30 vezes a dose (10mg / kg), sem problema.
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