Paulo Preto guardava R$ 100 milhões em bunker, disse delator à Lava Jato
Segundo procurador, valor seria o dobro do mantido em 'bunker do Geddel' em Salvador
Por: Folha de S. Paulo
Publicado em 19 de Fevereiro de 2019 as 15:03 Hrs
Alvo de prisão pela Operação Lava Jato nesta terça (19), o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, é suspeito de ter mantido um bunker para guardar dinheiro em espécie, onde manteria cerca de R$ 100 milhões.
O relato sobre o bunker foi feito à Lava Jato pelo empresário Adir Assad, que operava propina para a empreiteira Odebrecht e fez acordo de delação premiada com a força-tarefa.
Assad e seus funcionários teriam visitado o local diversas vezes. Segundo ele, Paulo Preto mantinha dois endereços para guardar dinheiro: uma casa no bairro Vila Nova Conceição e um apartamento na avenida Brigadeiro Luís Antônio, ambos em São Paulo.
A delação de Assad foi um dos elementos usados para deflagrar a operação desta terça-feira.
Ainda segundo o delator, o apartamento, usado exclusivamente para armazenar valores, era tão cheio de dinheiro que Paulo Preto eventualmente colocava as notas ao sol, para que não mofassem. O imóvel pertenceria à cunhada do operador.
A informação sobre o bunker de Paulo Preto foi revelada durante entrevista à imprensa nesta terça, pelo procurador da República Roberson Pozzobon. “Isso é um escárnio”, afirmou o procurador.
Pozzobon ainda comparou o bunker do ex-diretor da Dersa ao do ex-ministro Geddel Vieira Lima. "Talvez o bunker de Paulo Preto tivesse o dobro de dinheiro do bunker do Geddel".
Em setembro de 2017, a Polícia Federal encontrou R$ 51 milhões em espécie em um apartamento ligado ao ex-ministro Geddel (MDB) em Salvador. Ele está preso na Papuda, em Brasília, investigado por fraudes em empréstimos da Caixa Econômica Federal.
A Lava Jato investiga o papel de operador financeiro de Paulo Preto em favor da Odebrecht, fornecendo dinheiro em espécie para o pagamento de propinas pela empresa.
O delator ainda afirmou que usava uma perua para ir à casa da Vila Nova Conceição, a fim de retirar valores em espécie. Lá, carregava de 12 a 15 malas de viagem cheias de dinheiro, com R$ 1,5 milhão cada.
Os fatos relatados por Assad teriam ocorrido entre 2010 e 2011.
Nenhum dos endereços, porém, foi alvo da operação desta terça: segundo as investigações, eles não eram mais atuantes há alguns anos.
A Lava Jato ainda não sabe a origem dos valores mantidos em espécie por Paulo Preto nos bunkers.
A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira (19) mais uma fase da Operação Lava Jato e prendeu Paulo Preto. Batizada de Ad Infinitum, a fase da operação também cumpre mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao ex-senador e ex-chanceler Aloysio Nunes (PSDB). Aloysio atualmente é presidente da estatal Investe SP, cargo de primeiro escalão da gestão do governador João Doria (PSDB).
A Procuradoria acusa Paulo Preto de ter movimentado pelo menos R$ 130 milhões em contas na Suíça, entre 2007 e 2017.
Em uma dessas contas, segundo a Procuradoria, foi emitido um cartão de crédito em favor do ex-senador Aloysio Nunes, em dezembro de 2007 —que teria sido entregue a ele num hotel em Barcelona, na Espanha. O tucano nega o recebimento e diz que não sabe por que é investigado.
Na época, Aloysio era secretário da Casa Civil do Governo de São Paulo, na gestão de José Serra (PSDB). O cartão foi emitido na semana entre o Natal e o Ano-Novo.
As investigações são baseadas em informações e documentos colhidos no sistema de propinas da empreiteira Odebrecht. Paulo Preto é acusado de ter operado em favor da empreiteira, disponibilizando valores em espécie ao setor que comandava o pagamento de propinas.
Mas o ex-diretor da Dersa, segundo os investigadores, também recebeu valores em suas contas na Suíça das empreiteiras Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, igualmente investigadas na Lava Jato. Essas contas foram encerradas no primeiro trimestre de 2017, depois de o acordo da Odebrecht ter se tornado público. Em seguida, os valores foram transferidos para contas nas Bahamas.
Para o procurador da República Júlio Noronha, ainda há “várias caixas-pretas que precisam ser abertas” pela Lava Jato.
O ex-diretor da Dersa já é alvo de investigação pela Lava Jato em São Paulo, que apura desvios em obras rodoviárias no estado. Mas, segundo os procuradores de Curitiba, sua atuação no governo paulista não é alvo da investigação desta terça, que se concentra em seu papel de operador da Odebrecht.
Os procuradores argumentam que os repasses de Paulo Preto à Odebrecht foram imediatamente anteriores a pagamentos de propina para ex-diretores e gerentes da Petrobras, como Paulo Roberto Costa, Roberto Gonçalves e Pedro Barusco. Aí estaria o vínculo com a Lava Jato de Curitiba, a quem cabe apurar desvios na estatal de petróleo.
O ex-senador Aloysio Nunes, por sua vez, já foi alvo de um inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) que apurava doações irregulares à sua campanha ao Senado, em 2010. Mas a investigação foi arquivada no fim do ano passado, por falta de indícios mínimos de autoria ou materialidade.
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