Maioria aprova a participação de militares no governo, diz Datafolha
Segundo pesquisa, 60% acham positiva opção de Bolsonaro por ministros das Forças Armadas
Por: Folha de S. Paulo
Publicado em 08 de Abril de 2019 as 14:23 Hrs
A maioria da população apoia a presença de militares em cargos estratégicos do governo federal, de acordo com pesquisa do Datafolha.
Levantamento do instituto feito entre os dias 2 e 3 aponta que 60% dos entrevistados consideram positiva para o país a atuação de militares no governo Jair Bolsonaro, ante 36% que a consideram mais negativa. Outros 2% se disseram indiferentes, e 3% não souberam responder.
Além de o presidente e o vice, Hamilton Mourão, serem militares, integrantes das Forças Armadas estão à frente de 6 dos 22 ministérios. Outros dois ministros tiveram formação militar: Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) e Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União).
Membros do Exército, Aeronáutica e Marinha obtiveram ainda dezenas de cargos de destaque no atual governo. São os casos do comando do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) e da Funai (Fundação Nacional do Índio) e o posto de porta-voz da Presidência.
A indicação de militares para cargos-chave na administração federal já tinha sido mencionada por Bolsonaro durante a campanha eleitoral.
Diante de percalços no início do mandato, como problemas de articulação, escassez de apoio no Congresso e até polêmicas envolvendo seus filhos nas redes sociais, o chamado núcleo militar tem sido visto como fiador da estabilidade do governo.
Um dos expoentes da ala, e um dos ministros mais próximos ao presidente, é o general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), que se filiou ao PRP e atua junto a Bolsonaro desde a campanha.
Outro é o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, da Secretaria de Governo, que atua na articulação com o Congresso. A indicação de um militar para essa função destoa das opções de governos anteriores, que preferiam um político com experiência parlamentar.
Um dos episódios mais críticos dos cem primeiros dias de governo Bolsonaro também acabou reforçando a importância dos militares na gestão.
A primeira queda de ministro do novo governo foi em fevereiro, quando deixou a Esplanada Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral, que fez carreira como advogado. Bebianno foi demitido após a crise política desencadeada pela revelação do esquema de candidaturas de laranjas do PSL.
Ele acabou substituído por Floriano Peixoto Vieira Neto, general da reserva e ex-participante da força de paz brasileira no Haiti, grupo bem representado no governo.
A aprovação à nomeação de militares é maior entre homens do que entre mulheres. Também consideram mais positiva a participação de integrantes das Forças Armadas entrevistados aposentados, idosos com mais de 60 anos e evangélicos, faixa da população que já vinha demonstrando forte adesão a Bolsonaro desde a eleição.
Mas a aprovação a essa opção cai entre entrevistados com escolaridade de nível superior (54%), jovens de 16 a 24 anos (52%) e entre quem tem renda familiar mensal acima de dez salários mínimos.
No recorte regional, o apoio aos militares no governo é menor no Nordeste (53%), região mais crítica ao governo Bolsonaro e na qual ele foi derrotado no segundo turno da eleição de 2018, e sobe no Sul (66%) e atinge pico no Centro-Oeste/Norte (67%).
O Datafolha ouviu 2.086 entrevistados em 130 municípios de todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
No último sábado (6), o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, disse, ao participar da Brazil Conference, em Boston (EUA), que os integrantes das Forças Armadas vêm "desempenhando um papel de excelência, muito significativo" no governo.
Disse ainda que a permanência deles no poder durante a ditadura (1964-1985) criou uma visão hostil. "E na verdade os militares são extremamente preparados, competentes, leais e hierárquicos."
O vice-presidente, general Hamilton Mourão, que também participou do evento, disse neste domingo (7) que a participação de militares cria um risco de associação caso o governo falhe.
"Se nosso governo falhar, errar demais, não entregar o que está prometendo, essa conta irá para as Forças Armadas, daí a nossa extrema preocupação."
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