Investigação aponta assessor de Bolsonaro como responsável por página de fake news
Tercio Arnaud Tomaz trabalha com o presidente e integra o chamado 'gabinete do ódio'. Ele comandava a página 'Bolsonaro Opressor 2.0', que tinha mais de 1 milhão de seguidores.
Por: G1
Publicado em 09 de Julho de 2020 as 11:42 Hrs
Páginas que o Facebook derrubou na investigação que levou à remoção de uma rede de contas falsas relacionadas ao PSL e a gabinetes da família Bolsonaro tinha Tercio Arnaud Tomaz, assessor do presidente Jair Bolsonaro, como administrador de alguns dos perfis que divulgavam fake news. Ele também é um dos integrantes do chamado "gabinete do ódio".
A remoção de conteúdo aconteceu tanto no Facebook quanto no Instagram, em uma investigação do Atlantic Council’s Digital Forensic Research Lab (DFRLab), que mantém uma parceria com o Facebook desde 2018 para análise independente de remoções feitas pela rede social por comportamento inautêntico coordenado. A apuração foi feita somente com mensagens e posts divulgados nas páginas removidas.
Tomaz foi o único responsável pelas páginas identificado na investigação que trabalha diretamente com o presidente. Ele também administrou as redes sociais de Jair Bolsonaro na eleição de 2018. Antes, trabalhou no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro no Rio de Janeiro no cargo de auxiliar de gabinete. Sua página no Facebook foi excluída.
O assessor trabalha no Palácio do Planalto, em uma sala próxima do presidente, tem salário de quase R$ 14 mil por mês e apartamento funcional. Ele faria parte do "gabinete do ódio", junto com José Matheus Salles Gomes e Mateus Matos Diniz.
O DFRLab aponta que Tomaz era o responsável por "Bolsonaro Opressor 2.0", uma página já removida que publicava conteúdos a favor do presidente, fazia ataques a adversários políticos, como o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e até ex-ministros do governo, como Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro, e divulgava notícias falsas. A página tinha mais de 1 milhão de seguidores no Facebook.
Moro comentou a decisão do Facebook. Disse que "foi alvo da rede de mentiras que age por motivos político-partidários. Pessoas que perderam qualquer senso de decência".
Ainda, Tomaz era responsável pela página "@bolsonaronewsss" no Instagram, também derrubada pelo Facebook. Embora o dono da página fosse anônimo, a informação de registro em seu código-fonte mostra que ela pertence a ele, segundo a investigação. Ela tinha 492 mil seguidores e um total de 11 mil publicações.
O Planalto não se manifestou até a publicação desta reportagem.
Investigação
A investigação também identificou dois assessores do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, atuando na rede desses perfis. Um deles, Eduardo Guimarães, já foi apontado pela CPI mista das fake news como criador e administrador de páginas que faziam ataques contra adversários do presidente. Esses perfis já haviam sido retirados pelo Facebook. Nesta quarta, perfis pessoais de Eduardo Guimarães também foram apagados.
Paulo Eduardo Lopes, conhecido como Paulo Chuchu, é o outro assessor de Eduardo Bolsonaro apontado na investigação como um dos principais operadores dessa rede que Facebook derrubou.
“O Eduardo Bolsonaro tem um assessor chamado Paulo Eduardo, conhecido como Paulo Chuchu, que fazia parte dessa rede. Ele registrou, por exemplo, um site que era um site teoricamente de notícias independentes, mas que na verdade era pró-Bolsonaro. Ele é um dos coordenadores da Aliança, o partido que o Bolsonaro está tentando formar", afirma Luísa Bandeira.
chefe para a América Latina do DFRLab. "Ele é um dos coordenadores da Aliança em São Bernardo do Campo. Então, eles tinham um grupo no Facebook também, que faziam se passar por notícias independentes, por jornalismo independente, quando, na verdade, é um esforço de propaganda ligado, nesse caso, a um assessor do Eduardo Bolsonaro.”
Mensagens dessa rede de apoio com perfis falsos ligada ao presidente Jair Bolsonaro começaram a ser divulgadas antes da eleição presidencial de 2018. Contudo, se intensificaram muito do fim de 2019, quando foram feitos sistemáticos ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal, ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e outras autoridades classificadas como adversárias políticas do presidente. Essa rede se manteve ativa mesmo depois da da instalação da CPI das fake news e da abertura dos inquéritos pelo STF.
“É uma rede antiga, tem páginas que são bem antigas, bem antes da eleição, mas a atividade principal que a gente vê delas foi no final de 2019, início de 2020. Então, tem muitas coisas relacionadas à Covid-19. Tem muitas coisas como eu falei sobre o Congresso, sobre o STF, o que está acontecendo no Brasil agora, então essa rede estava atuando com muita força agora até ela ser retirada do ar pelo Facebook”, destaca Luísa.
"A gente vê, todo brasileiro sabe disso, a gente vê no WhatsApp, tem muitos ataques às pessoas, a gente vê no Twitter, então não é só isso, a informação está sempre conectada. Então, o que se estava tentando fazer ali era criar uma narrativa e uma ideia de que aquelas pessoas eram pessoas que deveriam ser desqualificadas por vários motivos distintos."
A relatora da CPMI das fake news, deputada Lídice da Mata, do PSB, disse que a retirada dos perfis ligados ao presidente Bolsonaro comprovam o que já mostraram as investigações do Congresso.
Veja o que o Facebook divulgou sobre a remoção de contas no Brasil:
Foram apagadas 35 contas, 14 páginas e 1 grupo no Facebook, além de 38 contas no Instagram;
Cerca de 883 mil pessoas seguiam uma ou mais dessas páginas no Facebook;
Em torno de 917 mil seguiam contas do grupo no Instagram;
O grupo removido reunia cerca de 350 pessoas;
Foram gastos US$ 1,5 mil em anúncios por essas páginas, pagos em real.
A rede social não divulgou a relação dos perfis e do grupo removidos, mas, em imagens usadas pelo Facebook como exemplo dos conteúdos derrubados, é possível ver as páginas "Jogo Político" e "Bolsonaro News", no Facebook.
O Facebook afirmou que chegou ao grupo a partir de notícias na imprensa e por meio de referências durante audiência no Congresso brasileiro.
"A atividade incluiu a criação de pessoas fictícias fingindo ser repórteres, publicação de conteúdo e gerenciamento de páginas fingindo ser veículos de notícias", disse o Facebook em comunicado.
Segundo a empresa, os conteúdos publicados eram sobre notícias e eventos locais, incluindo política e eleições, meme políticos, críticas à oposição, organizações de mídia e jornalistas, e também sobre a pandemia de coronavírus.
Ainda de acordo com a rede social, o grupo usava uma combinação de contas duplicadas e contas falsas para evitar a aplicação de políticas da plataforma.
O Facebook afirmou que quando investiga e remove esse tipo de operação se concentra mais "no comportamento, e não no conteúdo – independentemente de quem esteja por trás dessas redes, qual conteúdo elas compartilhem, ou se elas são estrangeiras ou domésticas."
Alguns dos conteúdos publicados por essa rede foram removidos automaticamente por terem violado a política interna da rede social, inclusive por discurso de ódio.
Outro lado
Procurou as assessorias dos parlamentares citados pelo Facebook e a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), órgão da Presidência da República. Veja abaixo as respostas recebidas até a última atualização desta reportagem.
Nota do PSL
"A respeito da informação que trata da suspensão de contas do Facebook de alguns políticos no Brasil, não é verdadeira a informação de que sejam contas relacionadas a assessores do PSL, e sim de assessores parlamentares dos respectivos gabinetes, sob responsabilidade direta de cada parlamentar, não havendo qualquer relação com o partido.
Ainda, o partido esclarece que os políticos citados, na prática, já se afastaram do PSL há alguns meses com a intenção de criar um outro partido, inclusive, tendo muitos deles sido suspensos por infidelidade partidária. Ainda, tem sido o próprio PSL um dos principais alvos de fake news proferidos por este grupo."
Nota da assessoria do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos -RJ)
"O governo Bolsonaro foi eleito com forte apoio popular nas ruas e nas redes sociais e, por isso, é possível encontrar milhares de perfis de apoio. Até onde se sabe, todos eles são livres e independentes.
Pelo relatório do Facebook, é impossível avaliar que tipo de perfil foi banido e se a plataforma ultrapassou ou não os limites da censura.
Julgamentos que não permitem o contraditório e a ampla defesa não condizem com a nossa democracia, são armas que podem destruir reputações e vidas."
Nota da assessoria da deputada Alana Passos (PSL-RJ)
"Em nenhum momento fui notificada pelo Facebook sobre qualquer irregularidade ou violação de regras das minhas contas, que são verificadas e uso para divulgar minha atuação como parlamentar e posições políticas. Quanto a perfis de pessoas que trabalharam no meu gabinete, não posso responder pelo conteúdo publicado. Nenhum funcionário teve a rede bloqueada por qualquer suposta irregularidade. Estou à disposição para prestar qualquer esclarecimento, pois nunca orientei sobre criação de perfil falso e nunca incentivei a disseminação de discursos de ódio".
Nota da assessoria do deputado Anderson Moraes (PSL-RJ)
"Tenho um perfil verificado, que não sofreu bloqueio ou qualquer aviso de ter violado qualquer regra da rede. Mas excluíram a conta de uma pessoa que trabalha no gabinete, uma pessoa com perfil real, não é falsa. A remoção da conta foi absurda e arbitrária, porque postava de acordo com ideologia e aquilo que acreditava.
O Facebook em nenhum momento apontou o que estava em desacordo com as regras. Qual motivo excluíram? Falam em disseminação de ódio, mas será que também vão deletar perfis de quem desejou a morte do presidente?
O governo Bolsonaro foi eleito com forte apoio nas redes sociais, perfis livres. Querem tolher a principal ferramenta da direita de fazer política. Estão atentando contra a liberdade de expressão e isso contraria princípios democráticos."
- COMENTÁRIOS
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
22:23
Decisão judicial mantém vereadora no cargo em Brasnorte
A suspensão do cargo de Célia Poletto ocorreu em 30 de outubro, após uma denúncia protocolada por Walifer Fernando Silva Lanzana
12:13
Operação da PF prende empresário de Brasnorte por posse ilegal de arma e realiza buscas em casa de vereador
Além da pistola, foi localizado na residência do empresário R$ 100 mil em espécie
11:04
PF e Promotoria Eleitoral fazem operação em Brasnorte
São cumpridos dois mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Juízo Eleitoral de Garantias do Núcleo II
12:06
Polícia Militar apreende armas, drogas e caminhonetes durante abordagem em Juína
Na ação, quatro suspeitos morreram, após confronto com as equipes; dois deles possuem extensa ficha criminal
19:14
Alerta de fraude para o comerciante de Juína
Desconfie de urgência e pressão do "cliente" na hora de confirmar transação comercial.
16:02
Prefeitura de Brasnorte recupera mais de R$ 1,1 milhão em cobranças indevidas de energia
A investigação teve como objetivo revisar e garantir a adequação das tarifas cobradas pela concessionária de energia.
16:54
Secretaria de Infraestrutura finaliza nova ponte de concreto em Juína
Segundo o secretário de Infraestrutura de Juína, Jônatas Plíneo, essa é uma das 07 pontes que o poder público se comprometeu a construir neste ano.
21:06
Juína perde mais um pioneiro, Sr. Santinho, de 83 anos
Ele já tinha problemas cardíacos e passou mal enquanto trabalhava.
18:59
Polícia Civil encontra corpos de casal desaparecido em área rural de Brasnorte
De acordo com informações preliminares da investigação, a Polícia Civil de Brasnorte já identificou alguns suspeitos envolvidos no caso.
17:42
Neymar se lesiona durante jogo do Al-Hilal na Champions League da Ásia
Craque brasileiro sente coxa direita e precisa ser substituído no final do segundo tempo contra o Esteghlal, após sair do banco de reservas e ficar em campo por cerca de 30 minutos
MAIS LIDAS