Inquérito desgasta gestão Toffoli e afasta Supremo do papel de moderador
Há 7 meses à frente do STF, ministro enfrenta nova polêmica com decisão de investigar ofensas à corte, com críticas até de colegas
Por: Folha de S. Paulo
Publicado em 18 de Abril de 2019 as 15:33 Hrs
Sete meses depois de assumir a presidência do Supremo Tribunal Federal, o ministro Dias Toffoli enfrenta desgaste interno por causa do inquérito aberto por ele para apurar fake news e ofensas aos integrantes da corte. Um cenário que o deixa diante da perspectiva de uma derrota particular em plenário.
A polêmica atingiu seu ápice nesta semana e pôs o STF no centro do noticiário, contrariando o discurso de posse de Toffoli de que ele faria a corte submergir e pacificaria a relação com outras instituições.
O episódio de segunda (15), de censura a dois sites no âmbito desse inquérito, aprofundou o desgaste interno e pode levar o plenário a rever medidas tomadas por Toffoli e pelo ministro Alexandre de Moraes, que preside a investigação sobre fake news.
Alguns magistrados tentam se descolar do caso. Quando a investigação foi aberta, em março, houve quem apoiou publicamente a iniciativa, como Celso de Mello. Reservadamente, um magistrado disse que a situação o envergonha.
Já o ministro Marco Aurélio tem vocalizado as principais críticas. Para ele, desde que o inquérito foi iniciado, as normas não foram seguidas. Há duas semanas, o ministro ironizou o discurso de posse de Toffoli e disse que o submarino que faria o STF submergir "talvez esteja avariado".
Com a ordem de retirada de reportagens dos sites da revista Crusoé e O Antagonista, assessores de ministros apontam que Toffoli e Moraes tendem a ficar isolados nesse ponto. Os veículos censurados publicaram textos com uma menção a Toffoli feita pelo empresário e delator Marcelo Odebrecht em um email de 2007.
No email, Odebrecht pergunta a dois executivos da empreiteira: "Afinal vocês fecharam com o amigo do amigo de meu pai?". Não há menção a pagamentos ou irregularidades. Pessoas próximas a Toffoli dizem acreditar que o vazamento desse material neste momento teve o intuito de atacar a corte.
Na terça (16), a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, enfrentou o STF e, numa manifestação a Moraes, afirmou ter arquivado o inquérito. Quatro horas depois, o ministro rebateu afirmando que a medida da PGR não tinha respaldo legal.
A investigação foi prorrogada por 90 dias. Conforme a decisão, só depois desse prazo Dodge poderá ver o procedimento, que é sigiloso. Os termos duros usados pela procuradora-geral foram vistos como um aceno dela para os membros de sua carreira —a cinco meses do fim de seu mandato no comando do órgão.
Desde quando Toffoli abriu o inquérito, há a expectativa que procuradores que criticavam o Supremo nas redes sociais sejam alvo da apuração.
A PGR pode recorrer da decisão de Moraes que rejeitou o arquivamento. Eventual recurso deve ser analisado pelo plenário, composto pelos 11 ministros, mas pode demorar. A PGR informou que só é possível recorrer após ter conhecimento do que foi investigado. Além disso, para um caso ser apreciado no plenário, é preciso que Toffoli o inclua na pauta.
A discussão também pode ir ao plenário por meio de processos movidos pela Rede e pela ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), que sustentam que o inquérito fere o ordenamento jurídico.
O ministro sorteado para relatar esses processos foi Edson Fachin, que já pediu informações a Moraes sobre a investigação sigilosa.
O ministro aposentado do STF Carlos Ayres Britto afirmou que, se há ameaça contra integrantes do tribunal e suspeitas fundadas de que há uma orquestração nas redes sociais, o assunto é grave.
"Agora, há de ser combatido com fórmulas que o próprio direito brasileiro estabelece, como, por exemplo, o presidente do Supremo podendo representar ao Ministério Público para que ele apure, ou à própria PF para que ela abra inquérito", disse.
"A gente não pode deixar de fazer a distinção que está na Constituição: o Judiciário não instaura nem conduz por si mesmo investigação criminal, porque tenderia a comprometer a imparcialidade do julgamento. Mas ainda há tempo de o próprio plenário do Supremo, na primeira oportunidade que se lhe abrir, encarar tecnicamente o tema e colocar as coisas nos seus devidos lugares."
Para Ayres Britto, quando o próprio procurador-geral afirma que um caso deve ser arquivado, "não há o que fazer, é arquivar".
Há também em trâmite no Supremo uma reclamação formulada pelos advogados da Crusoé, que sustentam que a decisão monocrática (individual) de Moraes de censurar a revista contrariou um julgamento do plenário que, em 2009, consolidou a plena liberdade de imprensa. Ayres Britto foi o relator da ação (APDF 130) naquela ocasião.
"Liberdade de imprensa e democracia são gêmeas siamesas. [A decisão de censurar a revista] Causa certa preocupação, mas a ADPF 130 está aí à disposição de todos", afirmou o ministro aposentado à Folha.
A gestão de Toffoli à frente do Supremo buscou dar transparência à pauta de julgamentos, divulgando a agenda do plenário do primeiro semestre inteiro com antecedência, em dezembro passado.
No entanto, o tema mais aguardado —a deliberação final do plenário sobre a possibilidade de prender condenados em segunda instância—, que estava previsto para ser analisado no último dia 10, foi adiado por Toffoli.
Restaram outras questões polêmicas que mantiveram o STF nos holofotes, como a criminalização da homofobia —cujo julgamento será retomado em 23 de maio— e a decisão de remeter para a Justiça Eleitoral processos sobre crimes de corrupção —o que motivou críticas de procuradores, sobretudo da Lava Jato.
Foi durante a sessão que discutiu esse tema, em março, que Toffoli anunciou a abertura do inquérito das fake news e o entregou aos cuidados de Moraes. No decorrer daquela tarde, o ministro Gilmar Mendes chegou a chamar de cretinos os membros do Ministério Público que extrapolam suas funções e cometem irregularidades.
- COMENTÁRIOS
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
17:52
Desinformação atrasa o sonho da casa própria para mais de 400 famílias em Aripuanã
Mesmo com o financiamento aprovado, as famílias deixam de concluir a compra; empreendimento tem apenas 45 unidades disponíveis
09:26
Alta do aluguel no Brasil reforça importância da casa própria em Aripuanã
Dados da FGV indicam pressão contínua sobre os preços de contratação em 2026
12:02
'Anaconda': Nem humor certeiro de Selton Mello salva homenagem tosca a filme original
Brasileiro se destaca com papel secundário, mas não compensa limitações da comédia estrelada por Jack Black e Paul Rudd que estreia nesta quinta-feira (25) no país.
11:45
Lula sanciona porte de arma para policiais legislativos dos estados e do DF
Com sanção presidencial, autorização passa a valer para toda a polícia legislativa do país; policiais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal já possuem autorização
11:21
Dieese: Novo mínimo impactará em R$ 39,1 bi contas da previdência em 2026
Piso salarial no país passará a R$ 1.621, resultado de um reajuste nominal de 6,79%
11:11
Corpo de Bombeiros localiza criança de quatro anos que desapareceu em área de mata
Uma equipe de busca e resgate foi mobilizada, contando com o apoio de dois cães farejadores, Mike e Mari
10:10
Saiba quais os nomes preferidos pelos brasileiros para registrar os filhos em 2025
O levantamento leva em conta dados do Portal da Transparência do Registro Civil
09:36
Câmara de Brasnorte entrega títulos à equipe da Band FM
As homenagens foram propostas pelos vereadores Willian Braz (UB) e Norberto Junior (PL).
18:14
TRE mantém cassação de Carreirinha e determina reprocessamento dos votos em Brasnorte
O reprocessamento será realizado no dia 15 de janeiro de 2026, às 12h, na sede do Cartório da 56ª Zona Eleitoral em Brasnorte
11:12
TRE suspende julgamento do prefeito Edelo Ferrari
Mesmo com pedido de vista, o placar está 3 a 0 pela cassação.
MAIS LIDAS
Corpo de Bombeiros localiza criança de quatro anos que desapareceu em área de mata
Alta do aluguel no Brasil reforça importância da casa própria em Aripuanã
Desinformação atrasa o sonho da casa própria para mais de 400 famílias em Aripuanã
'Anaconda': Nem humor certeiro de Selton Mello salva homenagem tosca a filme original
Saiba quais os nomes preferidos pelos brasileiros para registrar os filhos em 2025
Dieese: Novo mínimo impactará em R$ 39,1 bi contas da previdência em 2026
Lula sanciona porte de arma para policiais legislativos dos estados e do DF






