Einstein desativa mais da metade dos leitos de Covid-19, que voltam a tratar demais doenças
Número de pacientes com novo coronavírus também cai, e antigas demandas retornam
Por: Folha de São Paulo
Publicado em 02 de Julho de 2020 as 09:54 Hrs
Referência no tratamento do coronavírus entre os hospitais privados em São Paulo, o Albert Einstein começa, aos poucos, a se desmobilizar do combate à pandemia.
O hospital, que já chegou a ter mais de 200 leitos para Covid-19 dentre UTIs e clínicos, hoje tem 88, de um total de 650. O número de pacientes internados com o vírus também caiu, de mais de 110 em meados de abril, para em torno de 60 hoje.
Segundo um boletim enviado aos médicos, o hospital começou a remanejar alas antes direcionadas a atender exclusivamente a pacientes com a Covid-19, para atender casos não relacionados à nova doença no final de junho.
“Frente à redução da demanda de pacientes internados por suspeita ou confirmação de Covid-19 e como parte do movimento de retomada, desde o dia 24 de junho, a unidade de internação do 11º andar do bloco A, anteriormente destinada a esses casos, passou a alocar pacientes clínicos ou cirúrgicos sem o quadro da doença”, diz o texto ao qual a Folha teve acesso.
Com a redução da demanda da Covid-19, as outras necessidades voltaram a surgir e atualmente 80% dos leitos totais do Einstein estão sendo usados, de acordo com Claudia Laselva, diretora de operações, enfermagem e experiência do paciente do hospital.
Segundo Laselva, o medo do coronavírus afastou muitos pacientes do atendimento médico, o que fez com que a taxa de ocupação total do hospital caísse abaixo de 50% em alguns momentos.
"Basicamente, temos dois hospitais dentro de um só, um hospital Covid, com fluxo separado, com unidades separadas, e outro hospital 'não Covid'. Esse s fluxos não se cruzam, têm elevadores exclusivos, corredores exclusivos, salas cirurugicas exclusivas, unidades exclusivas", disse Laselva à Folha.
A diretora explicou que, por meio de um sistema de higienização com radiação ultravioleta, é possível transformar uma unidade inteira de tratamento ao coronavírus em atendimento comum, e vice-versa, em um dia. Por ser um vírus que se espalha pelo ar, os setores que tratam esses pacientes precisam ficar isolados dos demais.
Laselva afirmou que não teme uma segunda onda do coronavírus, mesmo com o afrouxamento da quarentena, caso três medidas sejam respeitadas: o uso de máscara, a higienização com álcool em gel e o distanciamento social.
"A gente tem uma capacidade muito boa de adaptação das nossas unidades. Eu consigo brevemente transformar as unidades e continuo tendo todos os recursos que tinha antes: equipamentos de pressão negativa, respiradores em número suficiente, profissionais treinados para lidar com Covid. Então estamos preparados, se por um acaso voltar a aumentar a demanda", afirmou.
Segundo um levantamento do HCor, o medo do coronavírus tem feito com que as pessoas adiem a procura por atendimento médico, mesmo aquelas com comorbidades e necessidade de acompanhamento, fazendo com que os pacientes cheguem aos hospitais em estado crítico.
Desde junho, os hospitais em São Paulo começaram a se adaptar para a retomada dos atendimentos eletivos. Os protocolos vão de triagem telefônica a veto a acessórios como colares e brincos.
Nesta segunda-feira (29) também foi fechado o hospital de campanha do Pacaembu —que, embora fosse uma iniciativa da prefeitura de São Paulo, era gerido pelo Einstein. Isso aconteceu após a queda no número de pacientes internados no local.
Trabalhavam ali quase 600 profissionais. O hospital afirmou que vai doar os equipamentos à prefeitura.
O Einstein foi referência dentre os hospitais privados no tratamento ao coronavírus. Foi ele, por exemplo, que criou um novo teste diagnóstico com 100% de especificidade, ou seja, não apresenta casos de falso-positivos. A precisão é equivalente à do método convencional (RT-PCR).
A promessa é de que seja possível a realização simultânea de até 1.536 amostras, um volume cerca de 16 vezes maior do que é possível processar hoje pelo método RT-PCR, tido como padrão-ouro.
A patente foi registrada no Sistema Internacional de Patentes dos Estados Unidos e, segundo o Einstein, é a primeira do mundo. O preço final do teste deve ser menor do que o do seu similar, hoje em torno de R$ 250.
Recentemente, o hospital também passou a recomendar que médicos não prescrevessem hidroxicloroquina e cloroquina para tratar pacientes com coronavírus.
O episódio chegou a causar um desentendimento com o Ministério da Saúde. Na segunda, o secretário-executivo, Elcio Franco, afirmou que o hospital havia voltado atrás em tal decisão.
Pouco depois, porém, o hospital negou a afirmação de Franco, número 2 da pasta comandada interinamente pelo general Eduardo Pazuello.
Segundo a nota do Einstein sobre o tema, “os estudos não mostraram diferenças em relação ao tratamento padrão; os ben efícios do uso dos medicamentos não superaram seus riscos conhecidos e potenciais; um estudo controlado randomizado não demonstrou evidência de benefícios em relação à mortalidade, tempo de internação ou necessidade de ventilação mecânica”.
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